Via Século Diário
Uma reunião presencial realizada nesta quarta-feira (7), em Vila Velha, marcou a retomada das ações no Espírito Santo da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, organização de âmbito nacional criada em 2016, para sair do “marasmo” e fazer frente à onda de direita que tomou conta do setor a partir das manobras responsáveis pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) e ganhou reforço no governo Jair Bolsonaro (PL).
Os evangélicos representam a maior base de sustentação do governo Bolsonaro, segmento religioso que ignora o desmonte promovido pela atual gestão, afetando a vida nacional, com inflação, fome, desemprego e uma economia destroçada. Grupos formados por religiosos permanecem ocupando áreas em frente a quartéis do Exército em várias cidades brasileiras, manipulados por organizações que tentam tumultuar a posse do presidente eleito, Lula (PT).
“Esse movimento parte de uma constatação de que há espaço para o crescimento da politização antifascista nas igrejas para se contrapor a lideranças que manipulam o povo política e ideologicamente, deixando muitos irmãos acuados”, comenta o policial militar Vinícius Querzone, um dos organizadores da retomada da frente no Estado, que também é um dos coordenadores nacionais do movimento Policiais Antifascismo.
“O Brasil vive uma transição religiosa e assiste à ascensão da direita evangélica. Seus grupos organizam uma bancada parlamentar, bloqueiam o avanço dos direitos humanos, manipulam imensos rebanhos por meio de pautas moralistas e a venda de soluções falsas ao povo”, aponta o texto do documento da frente que circula nas redes sociais.
Querzone explica que um dos objetivos da frente é “desconstruir a cultura do medo, a teologia da prosperidade, a partir de textos bíblicos”, considerando os ensinamentos de Jesus, para confrontar os poderosos, por meio de exemplos e ensinamentos contidos na Bíblia.
Participam da organização, também, Fábio Coronel, com formação em teologia, filosofia e história e presbítero na Igreja Metodista Wesleyana da Praia de Itaparica, e Alba Janes. Os organizadores afirmam que a “a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito tem atuado na denúncia do estado de exceção sob o qual estamos e do qual não nos livramos simplesmente pela realização das últimas eleições”.
Alguns pontos sãs destacados nas metas programadas, como o combate à cultura de poder dentro das igrejas; a desconstrução do conservadorismo moral evangélico como regra pública; e a oposição ao individualismo baseado na teologia da prosperidade. Eles reiteram a “defesa permanente do Estado laico, a transformação da cultura política brasileira e o fomento à consciência crítica acerca da defesa dos direitos assentada em um projeto político popular que garanta vida abundante para todos”.
No texto do documento no qual se assentam o debate, o grupo denuncia “autoexílio, prisões políticas e condenações injustas, frequente instrumentalização política do poder judiciário, uso sistemático da mentira, especialmente no contexto eleitoral”.
Os evangélicos da frente condenam a “crescente participação militar nas instâncias de poder e multiplicação de discursos e práticas de ódio visando intimidar e calar os defensores dos direitos humanos, que compõem um grave quadro de corrosão da democracia e de fragilização das instituições republicanas. Tudo isso a serviço de um projeto iníquo de retirada de direitos do povo trabalhador, crescentemente privado do pão e do futuro”.
O grupo é enfático ao afirmar que, por questão de fé, “mobilizamo-nos contra as desigualdades de classe, raça e gênero; as diversas formas de feminícidio, de genocídio dos negros e indígenas; a LGBTfobia; a intolerância religiosa; e no combate a todas as formas de discriminação, opressão e violência”.
A frente também irá atuar contra a exploração predatória dos recursos naturais e a mercantilização da terra, da água e do ar e quaisquer modelos de desenvolvimento pautados no extrativismo insustentável e que desequilibrem as relações entre humanos e outras formas de vida.
“Enfrentamos os retrocessos sociais promovidos pela elite política em sua associação às elites econômicas. Ambas instrumentalizam o Estado para perpetuar a exploração capitalista, retirar direitos sociais e escravizar o pobre”.