Foto: Stefano Rellandini / The Nation
Os resultados das eleições europeias ilustram, ainda que de forma distorcida, a grave crise social e política que se seguiu a décadas de medidas liberais de austeridade. Acima de tudo, é a extrema direita que está colhendo os votos dos mais desencantados, que acreditam ilusoriamente que podem evitar o rebaixamento esmagando os que estão na base e abraçando a perigosa ideologia da “preferência nacional” e do racismo.
A Itália se tornou um caso exemplar disso: sob o efeito da abstenção, a direita de Meloni continua hegemônica; ela se mostra “respeitável”, institucional, atlantista, filoliberal e europeísta. Ela está tranquilizando cada vez mais a burguesia e o mundo das finanças, que estão prontos para novas alianças com os pós-fascistas para responder à crise do capital e aumentar a exploração.
Abstenções recordes, inação climática e um clima de guerra
A Itália também foi às urnas com uma taxa de abstenção recorde: 6 pontos percentuais a menos do que em 2019, com picos no sul e nas ilhas, onde apenas 37% dos eleitores compareceram. Como outros países europeus, a Itália é totalmente impotente para responder aos conflitos e às múltiplas crises que estão varrendo o continente. Os líderes italianos estão em negação quanto ao desastre ecológico, dando as costas às novas gerações e afundando em um clima de guerra e repressão dos valores humanistas mais essenciais.
A VOTAÇÃO FORTALECE A EXTREMA DIREITA DE MELONI
O outro elemento essencial é a cristalização do voto em torno de dois polos: o de Meloni, que permanece estável (28,8%), e o do Partido Democrático de Elly Schlein, que, com 24% dos votos, se apresenta como a oposição mais estruturada e consegue polarizar o voto da esquerda suave anti-Meloni. O PD foi o principal partido em grandes cidades, como Turim e Milão, e saiu mais forte do que nas últimas eleições políticas. Com escassos 10%, o Movimento Cinco Estrelas, agora normalizado, entrou em colapso. Suas ambiguidades e fraquezas políticas significam que ele não pode mais incorporar o voto de protesto contra o sistema partidário italiano. A Liga de Matteo Salvini continua abaixo de 10%, enquanto o Forza Italia, partido de direita de Berlusconi, com 9,6%, está se recuperando um pouco.
CONSTRUÇÃO DE UMA FORTE OPOSIÇÃO SOCIAL
Um resultado bastante positivo (6,8%) também foi alcançado pela aliança entre os Verdes e a Esquerda (Alleanza Verdi e Sinistra), graças principalmente a dois candidatos simbólicos: Ilaria Salis, a professora presa na Hungria por participar de uma manifestação antifascista, e Mimmo Lucano, conhecido por seu compromisso com o acolhimento de exilados, que também foi reconfirmado como prefeito da cidade de Riace. Os cérebros por trás da lista, a dupla Bonelli-Fratoainni, já demonstraram abertura para colaborar com o PD.
A primeira tarefa é certamente criar as condições para a construção de uma forte oposição social ao governo de direita e, ao mesmo tempo, incentivar a agregação de forças anticapitalistas, provenientes de movimentos sociais e jovens, rompendo com o sistema econômico atual. Nessa perspectiva, a simples formação de uma nova aliança com os social-democratas não é suficiente nem desejável.