Por Projeto Brasil Real é um País que Luta
Via Brasil Real é um País que Luta
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No dia 30 de agosto de 1988, Curitiba, capital do Paraná, foi palco de um dos episódios mais marcantes e violentos da história de luta e resistência dos trabalhadores no estado: o massacre dos professores durante o governo de Álvaro Dias. Este episódio, que ficou gravado na memória das e dos paranaenses, foi um reflexo da hostilidade do governo estadual contra os professores em luta por melhores condições de trabalho e de vida, que respondeu à mobilização com violência e repressão.
Era crescente a revolta dos professores da rede pública estadual com as políticas educacionais implementadas pelo governo de Álvaro Dias . Desde que assumiu em 1987, o governador adotou uma série de medidas de austeridade que afetaram diretamente os salários e as condições de trabalho dos professores. A categoria, que já enfrentava os baixos salários, a falta de recursos e condições precárias nas escolas, viu-se ainda mais prejudicada pelas políticas de corte de gastos e congelamento salarial.
Diante dessa situação, os professores deflagraram greve para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. A paralisação, que começou em agosto de 1988, teve uma grande adesão, mobilizando milhares de educadores em todo o estado. O movimento ganhou força e passou a contar com o apoio de outros setores sociais, que reconheciam na luta dos professores um enfrentamento justo e necessário em defesa da educação pública. A luta não se resumia a reivindicações restritas da categoria.
No dia 30 de agosto, uma grande manifestação foi organizada em Curitiba, na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual. Milhares de professores, estudantes e apoiadores se reuniram para exigir que o governador Álvaro Dias atendesse às reivindicações da categoria. A intenção era pressionar para que o governo abrisse uma mesa de negociação e atendesse às reivindicações das e dos trabalhadores.
No entanto, a resposta do governo foi brutal e violenta. Álvaro Dias mandou reprimir violentamente a manifestação. As forças de segurança foram mobilizadas em grande número para massacrar os manifestantes, e o que deveria ter sido um ato pacífico se transformou em um cenário de guerra. A cavalaria da Polícia Militar, sob ordens do governador, utilizou bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha contra os professores.
O que aconteceu naquele dia foi um verdadeiro massacre. Centenas de professores foram feridos, alguns gravemente, e muitos foram presos. As imagens de professores sendo agredidos e arrastados pela polícia chocaram o Brasil e o mundo. A violência empregada pelo governo foi amplamente denunciada pelas organizações sindicais e o episódio da repressão violenta aos professores passou a ser conhecido como o massacre de 30 de Agosto.
A brutalidade da repressão gerou uma onda de indignação e solidariedade com as trabalhadoras e trabalhadores da educação, que continuaram a lutar mesmo diante da resposta violenta do governador. A greve prosseguiu, e os professores mantiveram sua postura firme em defesa de melhores condições de trabalho e da valorização da educação pública.
No entanto, mesmo com a repressão truculenta de Álvaro Dias, a luta da categoria tensionou politicamente o governo estadual, pressionando, por meio da opinião pública e das entidades de classe, e arrancou parcialmente alguns pontos das reivindicações, mas o trauma do massacre deixou cicatrizes profundas que ainda seguem abertas na educação pública paranaense.
O massacre de 30 de Agosto de 1988 em Curitiba é rememorado até hoje como um dia de luta dos professores, estudantes e de todos aqueles que defendem a educação pública, gratuita e de qualidade. A memória desse dia é um lembrete constante de que a luta segue viva, da centralidade da aposta na mobilização como instrumento de resistência e vigilância permanente. O projeto neoliberal de desmonte da educação pública segue a todo vapor com a escalada de ataques, como o projeto das escolas cívico-militares e o de privatização da gestão das escolas.
O Paraná segue sendo um laboratório das experiências neoliberais na educação pública, mas também um polo de luta e resistência. É o Paraná das greves, das ocupações de escolas, daqueles que não abandonam as ruas e constroem no front sua própria história. É nessa disputa que os estudantes e trabalhadores da educação apostam na construção de uma alternativa real ao projeto neoliberal de desmonte e mercantilização da vida.
Saiba Mais
MENEZES, Fabiane Luzia. Identidades e Memórias: A greve dos professores do Estado do Paraná de 1988. Antíteses, v. 6, n. 11, 2013.
Disponível em: https://openurl.ebsco.com/EPDB%3Agcd%3A11%3A7114939/detailv2?sid=ebsco%3Aplink%3Ascholar&id=ebsco%3Agcd%3A116305721&crl=c
CAMARGO, José Jailton. ESTADO E REPRESSÃO VIOLENTA À EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PARANÁ: RESQUÍCIOS DE DITADURA OU “NORMALIDADE DEMOCRÁTICA”?. Eliane Cristina da Silva Márcio José Pereira, v. 87020, p. 69, 2021.
Disponível em: https://tede.unicentro.br/jspui/handle/tede/593
https://appsindicato.org.br/30-de-agosto-de-1988-jamais-esqueceremos-a-violencia-sofrida