Por Projeto Brasil Real é um País que Luta
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A Coluna Prestes, formalmente conhecida como 1.ª Divisão Revolucionária ou Coluna Miguel Costa-Prestes, foi um relevante movimento político-militar no Brasil entre 1924 e 1927, de natureza tenentista, promovida por militares de baixa patente. Esse movimento surgiu como resposta à insatisfação com o governo de Artur Bernardes e o regime oligárquico predominante na República Velha, caracterizado pela política do café com leite, onde as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo se revezavam no controle do poder central. As principais demandas da Coluna incluíam a implementação do voto secreto, a garantia da educação pública, a obrigatoriedade do ensino secundário e a erradicação da pobreza no país. Durante seu percurso de dois anos e meio, a Coluna, composta por cerca de 1.500 integrantes, percorreu aproximadamente 25 mil quilômetros, atravessando treze estados brasileiros.
Apesar de sua inicial conformação militar, a Coluna também incorporou características de um movimento popular, já que a maioria de seus integrantes eram trabalhadores rurais, muitos deles analfabetos ou semi-analfabetos. Um número notável de mulheres, cerca de cinquenta, participou ativamente, oriundas principalmente do Destacamento Gaúcho, com algumas delas lutando ao lado dos homens. A relevância das lutas travadas pela Coluna para a história do Brasil é indiscutível, a movimentação gerada a nível nacional contribuiu para o enfraquecimento do governo oligárquico, preparando o terreno para a Revolução de 1930.
O contexto histórico do tenentismo mobilizou militares de baixa patente, refletindo um descontentamento das classes médias com o controle oligárquico. A intenção dos tenentes não era instaurar um regime militar, mas estabelecer um governo civil legítimo baseado em princípios liberais. A Coluna Prestes mobilizou não apenas os militares, mas também civis insatisfeitos com o abandono e a pobreza.
A trajetória do movimento começou no Rio Grande do Sul, após os levantes tenentistas, especialmente após a Revolta Paulista de 1924. No dia 28 de outubro de 1924, na Região das Missões, os primeiros batalhões se rebelaram sob a liderança do capitão Luís Carlos Prestes, que estava à frente do 1º Batalhão Ferroviário. As forças rebeldes rapidamente se expandiram por diversas cidades gaúchas, mobilizando tanto civis quanto militares. Em dezembro, cerca de 14 mil enviados do governo tentaram cercar a Coluna em São Luís Gonzaga, mas a estratégia de Prestes de “guerra de movimento” permitiu que a rompessem o cerco, garantindo sua continuidade.
Após essa fase inicial, a Coluna avançou para Santa Catarina e Paraná, onde enfrentou batalhas decisivas. No Paraná, Prestes revelou seus planos de ataque a tropas legalistas, buscando incorporar os remanescentes da Revolta Paulista. Com a formação da 1.ª Divisão Revolucionária, a marcha prosseguiu em direção ao Mato Grosso, atravessando o Paraguai.
No Mato Grosso, a Coluna enfrentou resistência, mas obteve vitórias importantes contra os legalistas. Avançaram em direção a Goiás e Minas Gerais, onde continuaram a utilizar táticas de guerrilha, despistando as forças governamentais. A marcha também se direcionou ao Nordeste, onde enfrentou combates significativos em vários estados, incluindo o Maranhão e o Piauí.
Durante a travessia, parte da Coluna decidiu se exilar na Bolívia devido às condições precárias. Esse exílio foi uma forma de evitar a repressão das forças legalistas. As mulheres que participaram da Coluna, frequentemente invisibilizadas, desempenharam papéis fundamentais, sendo conhecidas como viandeiras e se destacaram como combatentes.
Embora a Coluna Prestes não tenha alcançado seus objetivos fundamentais, sua luta enfraqueceu a hegemonia das oligarquias no poder e preparou o caminho para o retorno vitorioso dos tenentistas em 1930. Esse novo ciclo na história do Brasil foi marcado por uma participação ativa das massas nas transformações políticas e sociais significativas que se sucederam. O encontro de setores do movimento tenentista e de seus ideais nacionalistas com o movimento comunista, do qual Prestes viria a se tornar um dirigente histórico, atuou como elemento importante para o fortalecimento do Partido Comunista que passaria, dali em diante, a ocupar espaço importante no tabuleiro político do país.
Saiba Mais
SODRÉ, Nelson Werneck. A Coluna Prestes: análise e depoimentos. (No Title), 1978.
LIMA, Lourenço Moreira. A Coluna Prestes: marchas e combates. (No Title), 1979.