
Aliado de Trump da extrema-direita vence primeiro turno da eleição presidencial na Romênia
George Simion venceu com folga o primeiro turno da eleição presidencial, preparando o terreno para um segundo turno que se configura como um referendo sobre o futuro do país: alinhado com a Europa ou inclinado ao isolacionismo
Foto: Wikimedia Commons
O político de extrema-direita George Simion saiu vitorioso no primeiro turno da nova eleição presidencial da Romênia, realizada após a anulação da votação de novembro por suspeitas de interferência russa. Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (AUR), enfrentará o prefeito centrista de Bucareste, Nicușor Dan, em um segundo turno marcado para o dia 18 de maio, após a votação de domingo.
George Simion, líder do partido de extrema-direita AUR, obteve cerca de 40% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial romena — bem à frente do prefeito de Bucareste, Nicușor Dan, candidato independente que recebeu cerca de 20%, segundo resultados parciais com mais de 99% dos votos apurados.
A próxima votação, em 18 de maio, está se configurando como um referendo sobre o futuro da Romênia: um caminho alinhado com a Europa ou uma guinada para o isolacionismo.
Simion, nacionalista e soberanista, aproveitou-se de uma onda de sentimento antiestablishment. Pela segunda vez consecutiva, os principais partidos da Romênia — os Social-Democratas (PSD) e os Liberais (PNL) — fracassaram em levar seu candidato, Crin Antonescu, ao segundo turno, apesar do forte apoio financeiro e da rede de prefeitos tradicionalmente usada para mobilizar eleitores.
Mas agora essa estratégia fracassou.
Simion venceu em 36 dos 41 condados da Romênia, incluindo o do atual primeiro-ministro social-democrata Marcel Ciolacu. Talvez o mais surpreendente tenha sido o apoio esmagador que Simion recebeu dos romenos que vivem na Europa, enquanto os romenos na Moldávia e nos Estados Unidos preferiram Nicușor Dan.
O segundo turno promete ser imprevisível.
Com 40% dos votos, Simion — apoiador declarado de Donald Trump e do movimento MAGA, e opositor da ajuda à Ucrânia — entra como favorito. Ele também deve atrair os eleitores do ex-líder do PSD Victor Ponta, que fez uma campanha com viés soberanista e conquistou cerca de 14% dos votos.
Simion provavelmente também obterá apoio adicional de setores da base social-democrata, especialmente entre aqueles que compartilham suas visões sobre valores ortodoxos, a família tradicional e a resistência à ampliação de direitos para minorias, particularmente para a comunidade LGBTQ+.
Na preparação para o segundo turno em 18 de maio, Nicușor Dan alertou na noite de domingo: “Não será um debate entre indivíduos. Será um debate entre duas visões para a Romênia: uma pró-Ocidente e outra anti-Ocidente.”
Dan recebeu apoio oficial da aliança USR/Renew, mas também precisará de endossos do PSD e do PNL para ter uma chance real.
Em seu discurso de concessão, Crin Antonescu pediu a seus apoiadores que votassem no candidato que melhor representasse seus valores, deixando para as lideranças do PSD e do PNL a decisão sobre apoios formais.
Ainda é incerto se os dois finalistas participarão de um debate. Simion até agora tem evitado debates televisionados e aparições na mídia, exceto com a imprensa estrangeira.
Na noite da eleição, ele não apareceu ao vivo em seu comitê de campanha, preferindo divulgar um vídeo pré-gravado no qual reafirmou sua lealdade ao ex-candidato pró-Rússia Călin Georgescu.
“Permanecerei inabalavelmente leal ao homem que deveria, por direito, ocupar a presidência — o homem em quem milhões de vocês depositaram sua esperança… A Romênia precisa de sua sabedoria”, disse Simion.
Ele acrescentou que não busca o poder para si, mas tem como objetivo “restaurar a ordem constitucional”. “Tenho apenas um objetivo: devolver ao povo romeno o que lhe foi tirado” — uma referência à anulação do primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado.
A Romênia tem vivido um cenário de instabilidade política desde que a Suprema Corte anulou a primeira tentativa de realização da eleição no fim do ano passado. Na ocasião, o ultradireitista putinista Călin Georgescu contrariou as pesquisas de opinião e venceu o primeiro turno, mas foi posteriormente considerado beneficiado por uma campanha de interferência russa.
Simion votou no domingo pela manhã ao lado de Georgescu. “Chegou a hora de retomarmos nosso país das mãos dos canalhas”, declarou Georgescu, a quem Simion prometeu nomear primeiro-ministro caso vença.
O resultado abre caminho para um segundo turno de alto risco, que determinará o rumo futuro da Romênia em política externa, reforma judicial e relações com a União Europeia, além do apoio do país à Ucrânia.
Abertamente anti-UE, Simion se opõe à continuidade da ajuda militar ocidental à Ucrânia e defende um acordo negociado, ecoando a posição de Donald Trump — embora tenha descrito Vladimir Putin como um criminoso de guerra. Ele foi banido da Ucrânia em 2024 por “atividades anti-ucranianas”, mas mantém uma postura ostensivamente pró-OTAN, enquadrando o papel da Romênia como defensivo, e não intervencionista.