
Partidos de extrema direita avançam pela Europa
Enquanto o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) continua isolado no cenário político alemão, partidos populistas semelhantes estão ganhando força em outros países da União Europeia
A agência de inteligência interna da Alemanha, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), classificou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como “extremista de direita confirmado”. Os demais partidos políticos alemães, em sua maioria, querem manter distância. Alguns políticos chegaram até a pedir sua proibição. Mas como está a situação no restante da Europa?
Países Baixos: Partido pela Liberdade (PVV)
O Partido pela Liberdade de Geert Wilders causou recentemente o colapso da coalizão de quatro partidos que liderava por, segundo ele, não ter sido suficientemente dura em relação à migração. “Propus um plano para fechar as fronteiras para solicitantes de asilo, expulsá-los, fechar os centros de acolhimento. Exigi que os parceiros da coalizão concordassem com isso, e não concordaram”, disse Wilders. “Eu aceitei as políticas de asilo mais rígidas, não o fim dos Países Baixos.”
Novas eleições estão previstas para o outono europeu.
Embora seu partido tenha se tornado a força mais votada nas eleições parlamentares, Wilders não se tornou chefe de governo por ser considerado radical demais por seus parceiros de coalizão. Em vez disso, Dick Schoof, político independente, foi nomeado primeiro-ministro dos Países Baixos.
Se dependesse apenas de Wilders, ele proibiria todas as novas mesquitas e o Alcorão. Também critica fortemente as estratégias ambientais contra as mudanças climáticas e considera a União Europeia autoritária demais.
Wilders tem controle total do PVV, do qual é o único membro oficialmente registrado; mesmo deputados e ministros são oficialmente apenas apoiadores. Isso permite que ele decida sozinho o programa partidário e escolha todos os candidatos.
Polônia: Lei e Justiça (PiS)
O partido Lei e Justiça foi derrotado nas eleições parlamentares no final de 2023. Desde então, Donald Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu, governa o país como primeiro-ministro. Contudo, o PiS mantém a presidência e pode vetar políticas do governo.
Isso não mudou após a eleição presidencial no final de maio de 2025, vencida por Karol Nawrocki, apoiado pelo PiS, com uma campanha anti-europeia e anti-alemã.
Mesmo assim, o PiS é cauteloso em Bruxelas, ciente da importância dos fundos da UE para a Polônia. O partido apoia a Ucrânia contra a Rússia e defende uma presença forte da OTAN. Em relação à migração, mantém posições duras e, em temas sociais, é alinhado à Igreja Católica, sendo contra a legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e adoção por casais homoafetivos.
Hungria: Fidesz
O Fidesz – Aliança Cívica Húngara é, provavelmente, o partido de extrema direita mais bem-sucedido da Europa. Com Viktor Orbán, esteve no poder de 1998 a 2002 e desde 2010 governa de forma contínua. Fundado em 1988 como um partido liberal radical, mudou radicalmente de direção desde 2015.
O Fidesz defende uma “democracia iliberal”, vê o “Ocidente cristão” ameaçado por influências externas e quer limitar a influência da UE. Ao contrário do PiS polonês, mantém relações com a Rússia, inclusive na área energética. Orbán também é próximo ideologicamente de Vladimir Putin.
Por outro lado, o partido reconhece que as mudanças climáticas são causadas pelo ser humano.
Eslováquia: Smer – Direção Social Democrata Eslovaca
Fundado por Robert Fico, atual primeiro-ministro, o partido Smer se orienta claramente para a direita, apesar do nome. Fico já declarou que os muçulmanos não conseguem se integrar e, em 2016, disse que o Islã não tem lugar na Eslováquia.
Ele descreveu os ucranianos atacados pela Rússia como “nazistas e fascistas” e, após vencer as eleições parlamentares de 2023, suspendeu imediatamente o envio de armas à Ucrânia. Fico culpou os EUA e a OTAN pela guerra e criticou repetidamente as sanções da UE contra a Rússia.
Espanha: Vox
O Vox, liderado por Santiago Abascal, cresceu rapidamente desde sua fundação em 2013. Nas eleições de 2016 teve apenas 0,2% dos votos; em 2019, subiu para 15%. Apesar de hoje ser a terceira força política do país, nunca integrou um governo nacional.
O Vox defende a revogação da autonomia de regiões como Catalunha e País Basco, buscando um Estado espanhol centralizado. Também adota retórica anti-imigração e anti-Islã, com Abascal defendendo uma “nova Reconquista”, referência à expulsão de muçulmanos da Península Ibérica em 1492.
Em fevereiro, o Vox sediou o evento “Make Europe Great Again”, com a presença de Viktor Orbán e da francesa Marine Le Pen.
Dinamarca: Partido Popular Dinamarquês
Fundado em 1995, teve seu auge nas décadas de 2000 e 2010, apoiando governos de centro-direita e influenciando endurecimentos no sistema de asilo. Contudo, perdeu força após 2019, quando os social-democratas, liderados por Mette Frederiksen, adotaram e implementaram sua agenda anti-asilo.
Hoje, o Partido Popular tem apenas 2,6% dos votos. Mesmo assim, a Dinamarca mantém uma das políticas de imigração e asilo mais duras da Europa.