Via Público
Ele mal dormiu durante os primeiros dias de setembro. Após quatro meses de intenso trabalho, o documentarista argentino Joaquín Polo viu em frente à tela da televisão que “o ódio estava novamente dando frutos”: eles tinham acabado de tentar matar a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner. As imagens do ataque foram incorporadas no último minuto em Que Tiemble El Universo, um filme que acaba de atravessar o Atlântico e será apresentado neste sábado em Madri.
“A tentativa de assassinato vem de uma lógica que narramos no filme: o ódio que vem sendo inoculado há tantos anos pela oposição política e pela mídia, assim como os processos judiciais e a colocação de certos temas na pauta, fez com que as pessoas saíssem às ruas para insultar Cristina, para dizer que haveria muito derramamento de sangue… tudo isso já foi abordado no documentário”, disse Polo ao Público de Valência.
O documentarista está na Europa para apresentar seu trabalho com a ajuda do departamento de relações exteriores de Podemos. A primeira apresentação aconteceu no dia 9 na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, como parte de uma reunião de ativistas de Podemos de diferentes países.
Após passar por Málaga e Valência, a turnê encerrará neste sábado às 19h00 na Furor Producciones em Madri, onde haverá uma exibição deste filme que analisa “as mudanças e reações sociais na América Latina” a fim de enfrentar a direita e a ultra-direita.
“Eles querem monopolizar tudo, inclusive a palavra. É por isso que este documentário vai contra as informações hegemônicas fornecidas pela mídia”, diz Polo pouco antes de uma apresentação. A ala direita é perigosa, nunca descansa”, continua ele. Quando não governa, fica uma loucura voltar ao poder”.
“A escalada do ódio está crescendo a cada dia”
O documentário reflete a complexa situação na Argentina, marcada pelo crescimento exponencial do “discurso do ódio e da direitização da sociedade”. Polo adverte no filme sobre uma “estratégia violenta que está cooptando mais e mais seguidores”. “A escalada do ódio está crescendo a cada dia”, adverte ele.
Diante desta situação, Que Tiemble El Universo trata da resposta das forças progressistas para enfrentar estas ameaças e fortalecer os governos de esquerda na Argentina, Colômbia e Chile. Também analisa os desafios enfrentados pelo Brasil, onde o movimento liderado por Lula da Silva está tentando construir a maioria necessária para derrotar o extrema-direita Jair Bolsonaro em 2 de outubro.
“Penso que em todos estes casos existem elementos que também são úteis na Europa para pensar e repensar com vistas às próximas eleições”, comenta Polo, que também propõe analisar “o que aconteceu na Espanha nos últimos anos e qual tem sido a estratégia da direita”.
O diretor do documentário salienta que a ascensão de Vox na Espanha “é observada de forma preocupante” a partir do outro lado do Atlântico. “Vemos um processo contagioso em todo o mundo a respeito do avanço do fascismo. Em lugares como Suécia, Itália ou Espanha, estamos falando de partidos de extrema-direita que implicam um grande revés”, observou ele.
“Injeção moral”
Que Tiemble El Universo gerou uma mistura de emoção e esperança entre aqueles que assistiram a exibições na Europa. “Este documentário tem sido muito positivo em termos de tentar difundir esta nova forma de militância que existe na América e criar um espelho no qual olhar para nós mesmos”, afirma Francisco López, representante da Rede de Círculos de Podemos na América e membro do partido roxo na Argentina.
López está atualmente na Espanha com Polo para apresentar este filme, com o qual procuram transmitir uma “injeção de moral” entre as bases de Podemos. “Queremos dizer que com força e militância podemos mudar as situações, como aconteceu na Colômbia e no Chile”, disse ele.