Por Projeto Brasil Real é um País que Luta
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A Greve Geral de 1917 no Brasil representou um marco na história do movimento operário brasileiro, um momento de fervorosa mobilização e luta por melhores condições de trabalho e dignidade para os trabalhadores. Foi uma resposta direta ao agravamento das condições de trabalho e à deterioração econômica global. Influenciada pelo contexto internacional de agitações e greves de 1917, incendiado pela estagnação aprofundada na Primeira Guerra Mundial, a greve paulistana foi uma reação à intensificação da exploração do trabalho, o aumento dos preços e a estagnação salarial.
A greve ocorreu em um contexto de acelerado crescimento industrial em São Paulo, então o principal polo econômico do país. A expansão das fábricas e o aumento da produção estavam acompanhados de condições de trabalho precárias: jornadas extenuantes, ambientes insalubres e salários que mal permitiam a sobrevivência digna dos operários e suas famílias. Esse cenário de exploração e desigualdade criou um caldo de insatisfação que eventualmente explodiu em uma das maiores greves já registradas no Brasil até então.
A crise econômica culminou em um movimento contra a “carestia da vida” em março, particularmente em São Paulo, com campanhas contra o aumento do trabalho infantil e apoio sindical crescente. A organização sindical, como as ligas operárias do Belenzinho e da Mooca, e greves pontuais, como a dos operários da Crespi em junho, demonstraram a crescente mobilização e resistência dos trabalhadores.
Os trabalhadores paulistas, liderados por dirigentes sindicais como Edgard Leuenroth e outras figuras do movimento operário, ergueram-se em protesto unificado. Suas demandas incluíam a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, melhores condições de trabalho, aumento salarial e o reconhecimento dos sindicatos como representantes legítimos dos trabalhadores. A greve rapidamente se alastrou por diversas indústrias, paralisando grande parte da produção e demonstrando a força coletiva dos operários.
É fundamental também resgatar os aspectos de internacionalismo presentes na luta dos trabalhadores em 1917. A formação do operariado e da burguesia brasileiras, com grande peso da imigração italiana, colocava no centro do debate o financiamento da guerra imperialista. Cerca de 75% dos operários e operárias paulista eram imigrantes italianos que assistiam seus familiares morrendo no front de combate e eram obrigados a doar, mensalmente, uma parte de seu salário para o Comitê Italiano Pró-Pátria de São Paulo, recurso utilizado para financiar uma guerra responsável pelas mortes e destruição das condições de vida de milhões de trabalhadores ao redor do mundo. Uma guerra de espoliação.
Além das reivindicações imediatas, a Greve Geral de 1917 teve um impacto na consciência política e social do Brasil. Ela evidenciou a capacidade de organização e resistência dos trabalhadores frente aos interesses impostor pelo sistema capitalista emergente no país. Mais do que isso, a greve inspirou novas formas de mobilização e solidariedade entre os trabalhadores, fortalecendo o movimento sindical e pavimentando o caminho para futuras lutas por direitos trabalhistas e sociais. O movimento grevista que marcou a história da classe operária no Brasil é mais um dos episódios onde os trabalhadores entraram em cena e protagonizaram a sua própria história. Seja no movimento internacional contra a guerra imperialista, seja na luta pelos direitos, a ação direta do povo brasileiro teve papel decisivo na disputa da correlação de forças. Os avanços e conquistas posteriores não teriam sido possíveis sem a organização e a combatividade dos operários de 1917.
A luta dos trabalhadores em 1917 aponta para os desafios enfrentados pelos trabalhadores brasileiros hoje; se estão retrocedendo os nossos direitos, a luta segue sendo a reposta e o caminho. Apesar das conquistas históricas da luta, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943, que garantiu direitos fundamentais aos trabalhadores, como jornada de trabalho limitada, férias remuneradas e salário mínimo, esses direitos têm sido cada vez mais ameaçados pelas contra-reformas neoliberais que visam flexibilizar as relações de trabalho e aprofundar a exploração.
Diante das constantes tentativas de destruir os direitos trabalhistas, é fundamental a organização e a mobilização do conjunto das trabalhadoras e trabalhadores. A resistência ativa é o caminho para enfrentar os desafios do presente e para garantir um futuro sem exploração.. A Greve Geral de 1917 não é apenas um capítulo da história do Brasil, mas uma prova de que somos um povo que luta por seus direitos.
Referências
https://atlas.fgv.br/verbetes/greve-geral-de-1917
https://doi.org/10.1590/S2178-14942017000200011
https://hdl.handle.net/1884/42343
Saiba Mais
Um ano extraordinário: greves, revoltas e circulação de ideias no Brasil em 1917 (Edilene Toledo / USP)
As greves de 1917 em São Paulo e o processo de organização proletária (Yara Aun Khoury / PUCSP)
Greve geral de 1917 e o gênero do operariado (Sofia Meulemans Belluomini Santos Número / USP)
A greve geral de 1917 e as mortes pela ação repressiva (Ana Paula Moreli Tauhyl e Marcia Lika Hattori / UNICAMP)
À luta camaradas! A Greve Geral de 1917 (Mateus Pinho Bernardes / UFSC)
A greve de 1917: os trabalhadores entram em cena (Thiago Trindade de Aguiar / UNICAMP)
As Greves de 1917 e a historiografia do movimento operário no Brasil (ANPUH)
Jornalismo confessional carioca: a greve de 1917 e a cobertura de O Jornal Batista e A União (Pedro Henrique Guimarães Teixeira Alves / UFRGS)
A greve paulistana de 1917 e suas repercussões no operariado catarinense (Guilherme Custódio Jorge / UFSC)
Trajetória da luta operária em Sorocaba: a greve de 1917 (Isabel Cristina Caetano Dessotti / Arquivo Público de SP)
“A grande imprensa e os operários” – O jornal O Estado de S. Paulo e sua atuação durante a greve geral de 1917 (Émerson da Silva Sousa / UNIFESP)
Grevistas e não Grevistas: o operariado em Porto Alegre nas Grandes Greves da Primeira República (1917-1919) (César Augusto B. Queirós / UFRGS)
A Greve Geral de 1917 em Pernambuco nas páginas dos jornais (Aldo de Sousa Ferreira / UFRPE)