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A greve geral de 1962 e a conquista do 13º salário
Antifascismo

A greve geral de 1962 e a conquista do 13º salário

A histórica greve aconteceu em meio a um período de grande efervescência no país

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Via Brasil Real é um País que Luta

Tempo de leitura: 5 minutos.

A greve geral de 1962, ocorrida em meio a um período de intensa efervescência política e social no Brasil, foi uma das maiores mobilizações da classe trabalhadora no país e resultou na conquista histórica do 13º salário. Esse movimento marcou um momento de fortalecimento das reivindicações operárias, apoiado por setores organizados da sociedade civil e impulsionado pela ascensão das lutas por melhores condições de vida e trabalho. Nesse contexto, a greve de 1962 consolidou-se como um episódio central na trajetória de conquistas trabalhistas, onde os trabalhadores deram uma demonstração de forças e construíram um movimento fundamental para arrancar na luta política essa conquista.

Em 1962, o Brasil vivia um cenário de grande agitação política e social. A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a subsequente posse de João Goulart haviam gerado um clima de instabilidade política e econômica. Goulart, herdeiro político e representante da ala esquerda do “getulismo”, um progressista do cenário político nacional que defendia reformas estruturais de base que reconfigurariam as estruturas econômicas, sociais e, também, por consequência, políticas do país, como a reforma agrária. pudessem melhorar as condições de vida da população e combater a desigualdade social. Era acompanhado, por um lado, do apoio de setores das massas, mas enfrentava forte resistência das elites, do conservadorismo e do imperialismo estadunidense.

No plano econômico, o Brasil atravessava um período de crescimento desigual, com altas taxas de inflação, o que corroía o poder de compra da população e piorava a vida dos trabalhadores. Esse cenário resultou em uma crescente insatisfação com a perda do poder aquisitivo e com as precárias condições de trabalho, principalmente entre os operários. A conjuntura internacional também influenciava o clima político do país: a Guerra Fria intensificava a polarização ideológica e era usada como espantalho da “ameaça comunista’. O Brasil vivia um momento de forte participação das massas nos processos políticos, com um número crescente de movimentos de trabalhadores organizados.

Nesse contexto de agitação e, os trabalhadores organizados nos sindicatos passaram a pressionar o governo e as empresas por melhores condições salariais. Uma das principais pautas dos trabalhadores era a implementação do 13º salário, ou “abono de Natal”, como era velho conhecido no movimento operário enquanto reivindicação histórica, com registros no Brasil desde 1921, um adicional que representava a garantia de um salário extra ao final do ano, essencial para os trabalhadores lidarem com os custos de vida que vinham aumentando. Essa reivindicação, no entanto, era vista como uma ameaça ao capital industrial e ao setor empresarial, que resistiam fortemente à sua adoção, argumentando que o benefício comprometeria a lucratividade e a competitividade das empresas. O mercado financeiro e o empresariado à época diziam com todas as letras que a implementação de um 13° mês de salário seria desastroso para o país.

Em julho de 1962, a insatisfação da classe trabalhadora atingiu um ponto de ebulição. Organizações sindicais de diversos setores — metalúrgicos, bancários, operários da construção civil, entre outros — se uniram para organizar uma greve geral, que logo ganhou o apoio de outros segmentos da sociedade. A greve foi convocada contra o veto dos conservadores à indicação de San Tiago Dantas para primeiro-ministro, após a renúncia de Tancredo Neves em meio à pressão constante. Dantas tinha apoio do movimento sindical que, havia, por meio da greve de 1961, pressionado o Congresso Nacional pela aprovação da Lei do 13º Salário, projeto apresentado pelo deputado Aarão Seteinbruch (PTB-RJ), fruto de um processo de quase 8 anos de luta e acúmulo de forças, e agora reivindicava a sanção da Lei, aprovada no senado no dia 27 de junho.

A greve de 1962 foi marcada pela participação de centenas de milhares de trabalhadores em todo o país, tornando-se uma das maiores mobilizações operárias da história brasileira até então. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, grandes concentrações de trabalhadores tomaram as ruas e paralisaram grandes empresas estatais, além do setor privado, mas com peso menor. A unidade e a força do movimento demonstraram a capacidade de organização e articulação da classe trabalhadora, que, mesmo diante de um cenário adverso economicamente, arrancou essa conquista histórica, sancionada por Jango no dia 13 de julho daquele ano.

Foi o movimento operário capaz de conquistar a vitória que se transformou em lei. Começou como reivindicação do chão de fábrica e foi imposto pelo martelo da greve. Aliás, toda a base de sustentação do governo de João Goulart, em sua curta duração, apesar de seus limites estratégicos de reformismo nacionalista, se encontrava no movimento de massas.

Em tempos de barbárie neoliberal, marcada pela destruição das garantias e superexploração do trabalho, marcado pelas contrarreformas, como a reforma trabalhista de 2017, a reforma da previdência, além da ameaça da reforma administrativa apresentada pelo governo Lula e os ajustes no benefício de prestação continuada, o PBC, as conquistas duramente conquistadas durante a história parecem desaparecer diante de nossos olhos. A saída não é a letra morta da lei, mas a mobilização independente e constante, capaz de alterar a correlação de forças em favor da classe trabalhadora.

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