Populista de extrema direita vence eleições polonesas

Após as pesquisas de boca de urna no domingo à noite indicarem que o prefeito liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, havia vencido o segundo turno das eleições presidenciais da Polônia, os poloneses acordaram na segunda-feira com os resultados oficiais mostrando que foi, na verdade, Karol Nawrocki, o candidato do campo direitista Lei e Justiça (PiS), quem será o presidente da Polônia pelos próximos cinco anos.

Espera-se que Nawrocki continue a política do atual presidente Andrzej Duda de bloquear reformas importantes prometidas pelo governo liberal-democrático de Donald Tusk, como a restauração plena de um judiciário independente e mais direitos reprodutivos para as mulheres. Ele também prometeu se opor à adesão da Ucrânia à OTAN e ao envio de tropas polonesas para a Ucrânia.

De acordo com dados oficiais da Comissão Eleitoral do Estado, após a contagem total dos votos, Nawrocki recebeu 10.606.628 votos, ou 50,89%, enquanto Trzaskowski teve 10.237.177, ou 49,11%. A participação foi de 71,6%.

Mesmo no domingo à noite, quando uma pesquisa de boca de urna sugeria a vitória de Trzaskowski, Nawrocki afirmou em discurso que ainda estava confiante na vitória. “Vamos vencer e, assim, salvar a Polônia”, disse Nawrocki. “Não permitiremos que Tusk tenha o monopólio do poder; não permitiremos que este governo ruim, que não consegue controlar as finanças públicas e rouba nossos sonhos e aspirações, tenha controle total.”

Segundo uma análise dos resultados finais publicada pela Gazeta Wyborcza, 87,2% dos eleitores do candidato de extrema-direita Slawomir Mentzen no primeiro turno acabaram votando em Karol Nawrocki. Já 92,6% dos eleitores do quarto colocado no primeiro turno, o político de extrema-direita Grzegorz Braun, também optaram por Nawrocki.

Mentzen, que ficou em terceiro lugar com 14,81% dos votos no primeiro turno, apresentou oito condições para apoiar qualquer um dos dois candidatos no segundo turno: Nawrocki aceitou todas elas, incluindo a oposição à entrada da Ucrânia na OTAN e ao envio de tropas polonesas para lá, enquanto Trzaskowski aceitou apenas quatro, incluindo a recusa em enviar tropas.

Os resultados do primeiro turno mostraram que os jovens poloneses estão se afastando dos dois principais partidos políticos — a Plataforma Cívica de Tusk e o PiS de Jaroslaw Kaczynski — que dominam a política do país há décadas. Muitos jovens votaram em Mentzen, enquanto outros escolheram o candidato da extrema-esquerda, Adrian Zandberg.

Trzaskowski, na verdade, vinha tentando conquistar os eleitores de Mentzen desde o início de sua campanha, propondo a redução da ajuda financeira a famílias refugiadas ucranianas e apoiando a suspensão do direito de solicitar asilo na fronteira entre Belarus e Polônia, medida promovida por Tusk.

Em contraste, a campanha de Nawrocki foi abalada por uma série de escândalos, incluindo sua suposta participação em uma rede de prostituição enquanto trabalhava em um hotel durante os tempos de estudante.

“Para a vitória de Nawrocki, o fator-chave é o tamanho do eleitorado anti-sistema”, comentou o analista Jakub Majmurek, escrevendo no Wirtualna Polska. “Esse eleitorado, mesmo vendo Nawrocki como uma figura obscura, suspeita e pouco presidencial, está tão farto do governo de Tusk, das elites liberais e de sua indignação com o ‘candidato cafetão’ que está disposto a votar em Nawrocki.”

“Um presidente de integridade duvidosa do PiS ainda é visto como ‘o mal menor’ comparado à consolidação de poder em torno da Plataforma Cívica”, concluiu Majmurek.

Com Nawrocki determinado a bloquear propostas legislativas do campo de Tusk, e o PiS junto com a extrema-direita buscando manter mais de 50% dos votos do país, alguns analistas começaram a questionar se o governo de Tusk conseguirá cumprir um mandato completo. A vitória de Nawrocki certamente está revigorando a oposição polonesa, acrescentam.