Via UOL
Na última sexta-feira (4), uma live feita por um canal argentino do YouTube viralizou ao disseminar um suposto dossiê com informações falsas sobre os resultados das eleições no Brasil. Visto por mais de 400.000 pessoas, o vídeo com dados distorcidos foi amplamente divulgado entre os aliados do Presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi derrotado nas eleições.
Segundo um relatório do Estadão Conteúdo, o principal argumento apresentado na live é que cinco modelos de máquinas de votação eletrônica utilizadas nas eleições deste ano registraram mais votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que para o presidente Jair Bolsonaro (PL). Estes modelos, diz o dossiê, não haviam sido submetidos a um teste de segurança. Somente as urnas eleitorais de 2020 teriam passado pelo escrutínio de especialistas das universidades federais e das Forças Armadas. Esta informação é falsa porque todos os modelos de urnas já haviam sido testados.
Segundo a Justiça Eleitoral, todos os modelos são testados antes da eleição, com testes transparentes e auditáveis por autoridades e partidos.
A reprodução da En Vivo – gravada na Argentina, segundo Cerimedo – fez com que o parlamentar pró-bolsonista Nikolas Ferreira (PL-MG) tivesse suas contas no Twitter e na Instagram suspensas por divulgar informações falsas.
Bannon argentino
Com um escritório na elegante área de Puerto Madero de Buenos Aires, Cerimedo é um estrategista e consultor especializado em marketing digital e político e proprietário de vários canais ligados à direita argentina.
Referido pelos portais locais como um “latino-americano Steve Bannon”, em referência ao ex-assessor do ex-presidente americano Donald Trump, ele diz em entrevistas que quer fortalecer a direita em todo o continente.
Em conversa com o portal argentino “Notícias”, ele diz que, além de seu país de origem, ele já expandiu seus negócios para o Brasil e o Chile. No próximo ano, ele disse que pretende entrar nos Estados Unidos, colaborando com Trump, que está flertando com um retorno à Casa Branca em 2024.
No Brasil, segundo ele, ele já colaborou com a eleição de Bolsonaro em 2018. O consultor defende o uso de bots em aplicativos de mensagens e redes sociais como estratégia para vencer a eleição.
O amigo do filho
Na campanha de 2018, [Bolsonaro] tinha falado muito mal dos gays. Como fizemos para reverter isso? Através da WhatsApp, começamos a enviar milhares de mensagens de troll dizendo: “Sou gay”. Bolsonaro pode ser um nazista, mas a economia está bem e vamos viver mais seguros. A partir dessa influência, parte da comunidade gay o apoiou.
Na entrevista, transmitida em 27 de outubro, três dias antes do segundo turno, o consultor não fala sobre as eleições de 2022, mas diz ter recebido Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do presidente, em visita em outubro.
Ele diz ter conhecido Eduardo em 2010, durante um curso nos Estados Unidos. Em meados de outubro ele disse que era o coordenador da viagem do congressista para a capital argentina.
Segundo ele, Eduardo jantou com “vários políticos” em sua casa. “Eu fiz o convite a nível pessoal e ninguém sabia quem mais ia”, disse ele. A reunião não foi gravada nas redes do deputado, mas fotos dos dois podem ser encontradas no Twitter e no Facebook.
Apoio mútuo? Na live de sexta-feira, Cerimedo diz ter recebido documentos que provariam uma fraude brasileira, mas que ele não tinha nenhum relacionamento com a família Bolsonaro. Nas mídias sociais, ele é um firme apoiador do clã, engajado durante todo o processo eleitoral em nome do presidente.
Não há menções públicas da consultoria por Bolsonaro, mas fotos tanto do presidente como de Eduardo também circulam nas mídias sociais, segurando banners com o logotipo do canal “La Correcto Diario” do Cerimedo. Em um vídeo gravado em Alvorada e transmitido pelo canal, Bolsonaro saúda o veículo que segura a bandeira.
O UOL procurou o conselho do Planalto e do congressista Eduardo Bolsonaro para confirmar as informações e saber mais sobre a relação entre eles e o argentino, mas não teve resposta até o momento da imprensa. O relatório também tentou entrar em contato com Cerimedo, mas não foi bem sucedido.
O que diz o TSE?
“Não é verdade que os modelos anteriores de máquinas de votação eletrônica não passavam por procedimentos de auditoria e inspeção”. O equipamento antigo está em uso desde 2010 (para as pesquisas de modelos de 2009 e 2010) e todos foram utilizados nas Eleições de 2018. Durante este período, estes modelos de urnas eleitorais já foram submetidos a várias análises e auditorias, tais como a Auditoria Especial do PSDB em 2015 e cinco edições do Teste de Segurança Pública (2012, 2016, 2017, 2019 e 2021).
Os resultados de todas as edições do TPS estão disponíveis para consulta no seguinte endereço: https://www.justicaeleitoral.jus.br/tps/#resultados.
As máquinas de votação eletrônica modelo 2020 que ainda não estavam prontas durante o período TPS 2021 foram testadas pelo Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EP-USP), além de ter o conjunto de software também avaliado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Em todas as três avaliações não foram encontradas fraquezas ou mesmo sinais de vulnerabilidade. O software usado no equipamento antigo é o mesmo usado no equipamento mais novo (UE2020), cujo sistema é amplamente aberto à auditoria dentro e fora do TSE desde 2021. O relatório elaborado pela instituição pode ser encontrado no link a seguir:
Finalmente, deve-se observar que todas as pesquisas são auditadas e que se trata de hardware, ou seja, é um dispositivo. O que importa é o que funciona dentro dele, ou seja, o software, que esteve aberto por um ano a todas as entidades de inspeção. O software das urnas é único em todos os modelos, como foi divulgado, selado e assinado”.