
A surpreendente psicologia por trás do negacionismo climático
Resultados interessantes de estudos conduzidos por Mary Jiang, da The Australian National University
Imagem: Lightspring/Shutterstock
Na luta contra a negação climática, os cientistas descobriram um inimigo inesperado: nossos próprios viéses cognitivos. Um novo estudo revela como nossas mentes podem ser facilmente enganadas pelo simples ato da repetição.
Imagine rolar seu feed de redes sociais e encontrar uma afirmação cética sobre o clima que contradiz tudo o que você sabe sobre o aquecimento global. Você a descarta, confiante em sua compreensão da ciência. Mas e se você visse essa mesma afirmação novamente mais tarde? De acordo com essa nova pesquisa, você pode se encontrar inconscientemente considerando-a mais credível, apesar de sua forte posição a favor do clima.
Esse fenômeno, conhecido como “efeito da verdade ilusória”, foi demonstrado em diversos domínios. No entanto, este estudo, liderado por Mary Jiang da Universidade Nacional da Austrália, junto com colegas da Universidade da Califórnia do Sul, examinou especificamente seu impacto nas crenças sobre as mudanças climáticas.
A equipe de pesquisa conduziu dois experimentos, envolvendo 52 participantes na primeira rodada e 120 na segunda. A vasta maioria desses participantes – cerca de 90% – era composta por crentes e apoiadores da ciência climática. Eles variavam de pessoas que estavam apenas “preocupadas” com as mudanças climáticas a aquelas classificadas como “alarmadas”, representando o nível mais alto de engajamento e preocupação com o assunto.
Os participantes foram apresentados a uma mistura de declarações: algumas alinhadas com a ciência climática, outras refletindo pontos de vista céticos e algumas sem relação com o clima. Após uma breve pausa, eles encontraram um novo conjunto de declarações, metade das quais foi repetida da primeira rodada. A tarefa? Avaliar a veracidade de cada afirmação em uma escala de seis pontos.
Os resultados, publicados na revista PLOS ONE, foram surpreendentes. Independentemente da força de suas convicções sobre a ciência climática, os participantes classificaram todas as afirmações repetidas como mais verdadeiras – até mesmo aquelas que contradiziam diretamente suas crenças. Esse efeito persistiu entre o grupo “alarmado”, que tinha as opiniões mais fortes a favor da ciência climática.
“Pode ser necessário apenas uma única repetição para fazer alguém sentir que uma afirmação é verdadeira”, explica Norbert Schwarz, coautor do estudo e professor de psicologia na USC, em um comunicado da universidade. “Isso é certamente preocupante, especialmente quando se considera quantas pessoas estão expostas a afirmações verdadeiras e falsas e que as espalham ou são persuadidas por elas a tomar decisões que podem afetar o planeta.”
Essa vulnerabilidade à repetição levanta preocupações sobre como as informações climáticas são comunicadas, especialmente em ambientes de mídia que buscam uma cobertura “balanceada”. Cada repetição de uma afirmação cética, mesmo que apresentada ao lado de informações factuais, pode aumentar incrementalmente sua veracidade percebida.
No entanto, o estudo também destaca um potencial lado positivo. O poder da repetição funciona em ambas as direções – afirmações precisas e baseadas em ciência também se tornam mais críveis com a exposição repetida. Isso sugere que repetir consistentemente informações verdadeiras sobre mudanças climáticas poderia ajudar a reforçar a compreensão e aceitação públicas da ciência climática.
“As pessoas acham as afirmações de céticos do clima mais credíveis quando foram repetidas apenas uma vez”, diz Jiang. “Surpreendentemente, esse aumento na crença como resultado da repetição ocorre mesmo quando as pessoas se identificam como fortes apoiadoras da ciência climática.”
À luz dessas descobertas, os pesquisadores afirmam que a responsabilidade recai tanto sobre os consumidores quanto sobre os produtores de informação para combater a disseminação de desinformação climática. A conscientização sobre nossos viéses cognitivos é o primeiro passo para construir um discurso público mais resiliente e orientado pela verdade.