
Bolsonaro é acusado de plano de golpe de extrema direita para tomar o poder
O ex-presidente negou ter violado a lei, enquanto o procurador-geral alega que a trama incluía um plano para envenenar Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Isac Nobrega/Reprodução
O ex-presidente negou ter violado a lei, enquanto o procurador-geral alega que o plano incluía um plano para envenenar Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi acusado de supostamente arquitetar e liderar uma conspiração de extrema-direita para se agarrar ao poder por meio de um golpe militar.
O procurador-geral do país sul-americano, Paulo Gonet, apresentou as acusações contra o populista de direita radical e vários aliados importantes na noite de terça-feira. Ele acusou Bolsonaro e seis associados importantes de liderar uma organização criminosa com um “projeto de poder autoritário”. A suposta trama, escreveu ele, incluía um plano para envenenar Luiz Inácio Lula da Silva e matar a tiros o juiz da Suprema Corte Alexandre de Moraes, um inimigo do ex-presidente.
Bolsonaro, que, segundo especialistas, pode pegar de 38 a 43 anos de prisão se for condenado, é acusado de crimes que incluem o envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado e em uma associação criminosa armada e a abolição violenta do estado de direito. Ele negou repetidamente ter violado qualquer lei e, na terça-feira, disse aos repórteres que não estava “nem um pouco preocupado com essas acusações”.
As acusações vêm três meses depois que um relatório bombástico de 884 páginas da polícia federal acusou Bolsonaro, que governou o Brasil de 2019 a 2022, de desempenhar um papel de liderança no planejamento e organização de uma conspiração destinada a impedir que o vencedor de esquerda da eleição presidencial brasileira de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse o poder.
Bolsonaro perdeu a votação para Lula, mas se recusou a aceitar a derrota e, em 8 de janeiro de 2023, seus partidários mais radicais fizeram um motim na capital Brasília, depredando o palácio presidencial, o congresso e a suprema corte em uma tentativa de anular o resultado internacionalmente aceito.
A Procuradoria Geral da República acusou outras 33 pessoas de fazerem parte da suposta conspiração, incluindo o ex-chefe de espionagem de Bolsonaro, o deputado de extrema direita Alexandre Ramagem; seus ex-ministros da Defesa, general Walter Braga Netto e general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; seu ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres; seu ex-ministro da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos. Netto negou envolvimento em um plano de golpe. Os outros homens ainda não se pronunciaram publicamente sobre as alegações.
Talvez o mais chocante seja o fato de que o relatório de 272 páginas da Procuradoria Geral da República afirma que Bolsonaro estava ciente de um suposto plano – que, segundo o relatório, “recebeu o sinistro nome de ‘Punhal Verde e Amarelo’” – para semear o caos político por meio do assassinato de autoridades importantes, incluindo Lula e o juiz da Suprema Corte Alexandre de Moraes.
“O plano foi pensado e levado ao conhecimento do presidente da república [Bolsonaro], que concordou com ele”, afirma o documento. “[O plano] cogitava usar armas contra o ministro Alexandre de Moraes e matar Luiz Inácio Lula da Silva com veneno.”
A notícia de que Bolsonaro havia sido oficialmente acusado foi bem recebida por políticos da oposição e brasileiros progressistas que desprezam o ex-presidente por sua forma anticientífica de lidar com a pandemia de Covid, sua hostilidade às minorias, às comunidades indígenas e ao meio ambiente, e seus ataques implacáveis ao sistema democrático do Brasil.
Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores de Lula, chamou as acusações formais de “um passo crucial na defesa da democracia e do Estado de Direito”.
O filho de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, senador, rejeitou as acusações no X, alegando que não havia “absolutamente NENHUMA PROVA contra Bolsonaro”.
O caso agora será analisado pela Suprema Corte, cujos juízes decidirão o destino de Bolsonaro e seus supostos cúmplices. A expectativa é que isso aconteça no primeiro semestre deste ano.
O historiador Carlos Fico, um dos maiores especialistas sobre a ditadura que tomou o poder após o golpe militar de 1964 no Brasil, disse que era particularmente notável que os acusados incluíssem três figuras militares de alto escalão: General Braga Netto, General Heleno e Almirante Garnier Santos.
“O aspecto mais significativo não é a acusação de Bolsonaro – afinal, ele é um admirador declarado da ditadura militar e da tortura – mas sim a acusação dos generais”, disse Fico, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O indiciamento de generais por meio de um processo judicial conduzido pela polícia federal, com o aval do procurador-geral do país e [que] deverá ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, não tem precedentes na história brasileira.”
“Ao longo dos anos, inúmeros militares golpistas nunca foram devidamente punidos e acabaram sendo anistiados”, acrescentou Fico, referindo-se àqueles que nunca foram processados por crimes cometidos durante a ditadura, que terminou em 1985. “Espero que, desta vez, não haja anistia.”