
Marx sobre os abusos de poder de Trump
Karl Marx percebeu como os sistemas presidenciais com executivos fortes ameaçavam eclipsar o poder democrático do legislativo
Um dos elementos mais surpreendentes do livro Citizen Marx, de Bruno Leipold, é o fato de Karl Marx ter sido um crítico ferrenho do que os cientistas políticos chamam de sistemas presidencialistas.
Nos sistemas presidencialistas, o executivo é investido de poder que não deriva do legislativo, como em um sistema parlamentarista. Em vez disso, o executivo é investido de poder derivado de outro lugar, mais comumente a eleição pelo próprio povo. Esses sistemas tendem a enaltecer o executivo como uma criatura que está acima e além da normalidade da política.
Esse tipo de elevação do executivo em um sistema presidencialista é algo que Alexander Hamilton, aquela velha raposa, sabia e por isso defendeu com tanta veemência.
Marx percebeu imediatamente como esse sistema, que havia sido criado pela constituição da Segunda República, ameaçava eclipsar o poder do legislativo. Como ele escreveu no 18º Brumário:
“A Assembleia Nacional eleita está em uma relação metafísica com a nação, mas o presidente eleito está em uma relação pessoal com ela. A Assembleia Nacional, por meio de seus representantes individuais, exibe bem os múltiplos aspectos do espírito nacional, mas no presidente o espírito nacional é encarnado. Contra a Assembleia, ele possui uma espécie de direito divino; ele é presidente pela graça do povo.“
Marx não temia apenas a forma como o executivo foi criado para dominar o legislativo. Como Leipold demonstra, Marx também estava atento aos abusos de poder aos quais executivos desse tipo eram particularmente propensos. Entre os piores abusos que Marx temia estão O uso arbitrário do poder de perdão e a demissão sumária de funcionários do governo.
Isso lhe parece familiar?