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Ministro israelense de extrema direita Ben-Gvir provoca reação negativa com visita a al-Aqsa
Extrema Direita

Ministro israelense de extrema direita Ben-Gvir provoca reação negativa com visita a al-Aqsa

Ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, visita complexo de al-Aqsa e provoca condenações regionais em meio a ataques em Gaza que já mataram 33 palestinos

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Via Euronews

Tempo de leitura: 6 minutos.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, de extrema direita, visitou e orou neste domingo no local mais sensível de Jerusalém, o complexo de al-Aqsa, desencadeando uma onda de condenações na região e aumentando os temores de uma nova escalada nas tensões.

O ato provocador ocorreu enquanto os ataques israelenses continuam por toda a Faixa de Gaza, com pelo menos 33 palestinos mortos no domingo enquanto se dirigiam a pontos de distribuição de ajuda. As críticas internacionais aumentam contra o que é descrito como uma situação de fome fabricada por Israel no enclave sitiado.

A visita de Ben-Gvir ao complexo ameaça minar ainda mais os esforços de mediação internacional, liderados por países como Catar e Egito, para encerrar a ofensiva militar israelense em Gaza, que já dura quase dois anos.

O local é o mais sagrado do judaísmo, conhecido como Monte do Templo, onde se acredita que existiram templos antigos. Para os muçulmanos, o local é o Nobre Santuário (Haram al-Sharif), onde está localizada a Mesquita de al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã.

Visitas de autoridades israelenses ao local — que foi a primeira qibla (direção para a qual os muçulmanos rezam) — são consideradas provocativas em todo o mundo árabe. Orar publicamente no local viola o status quo de longa data.

Fiéis judeus têm permissão para visitar o local, mas são proibidos de orar ali, sendo essa norma garantida por tropas e policiais israelenses. O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que não haverá mudanças nas regras que regem o complexo após a visita de Ben-Gvir.

O ministro, que já provocou tensões anteriormente com visitas similares, foi ao local após o Hamas divulgar vídeos de um refém israelense em Gaza visivelmente debilitado. O vídeo causou indignação em Israel e aumentou a pressão sobre o governo Netanyahu para chegar a um acordo de libertação dos reféns.

Protestos por reféns

Cerca de 50 reféns seguem em poder do Hamas em Gaza, dos quais 20 ainda são considerados vivos. Eles foram sequestrados durante o ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas.

A missão de Israel na ONU solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para tratar da situação dos reféns, marcada para terça-feira.

“Eles não querem um acordo”, disse Netanyahu sobre o Hamas. “Querem nos quebrar com esses vídeos de horror.”

O gabinete do premiê informou que entrou em contato com a Cruz Vermelha para fornecer alimentos e cuidados médicos aos reféns. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha declarou estar “horrorizado com os vídeos angustiantes” e pediu acesso imediato aos sequestrados.

A ala militar do Hamas disse estar pronta para responder positivamente aos pedidos da Cruz Vermelha para entregar comida aos reféns, caso corredores humanitários sejam abertos de maneira “regular e permanente” em Gaza.

Ben-Gvir volta a defender anexação e expulsão

Ben-Gvir aproveitou a visita para renovar seu apelo à anexação formal da Faixa de Gaza por Israel e voltou a defender a expulsão dos palestinos do território — uma retórica que dificulta ainda mais as negociações por cessar-fogo e liberação de reféns.

Ele afirmou que o vídeo do refém Evyatar David, de 24 anos, dentro de um túnel escuro, é uma tentativa de pressionar Israel e aumentar as críticas internacionais por um acordo, o qual ele rejeita, defendendo novos ataques em Gaza.

A visita foi condenada por líderes palestinos, pela Jordânia — que tem papel de guardiã da mesquita de al-Aqsa —, pela Arábia Saudita e pela Turquia. Rebeldes Houthis do Iêmen lançaram três drones contra Israel logo após a visita; Israel afirma tê-los interceptado.

Visitas anteriores de Ben-Gvir ao local sagrado já haviam provocado erupções de violência, incluindo a guerra de 11 dias com o Hamas em 2021.

Violência continua em pontos de distribuição de alimentos em Gaza

Autoridades hospitalares em Gaza afirmam que forças israelenses mataram 33 palestinos no domingo enquanto se dirigiam a centros de distribuição de ajuda. Testemunhas afirmam que soldados israelenses abriram fogo contra multidões famintas que corriam para receber alimentos.

O morador Yousef Abed relatou que foi alvo de tiros indiscriminados e viu pelo menos três pessoas sangrando no chão. “Não consegui parar para ajudá-los por causa das balas”, disse ele.

Dois hospitais no sul e no centro de Gaza informaram ter recebido corpos vindos das rotas que levam aos centros de ajuda mantidos pela empresa Gaza Humanitarian Foundation (GHF), apoiada por EUA e Israel, incluindo 11 mortos na área de Teina enquanto tentavam chegar ao centro em Khan Younis.

Três testemunhas palestinas, incluindo uma que viajava por Teina, disseram ter visto soldados abrindo fogo nas rotas situadas em zonas militares.

O Exército de Israel afirmou não estar ciente de vítimas resultantes de disparos próximos aos locais de distribuição. Já o escritório de imprensa da GHF disse que “não houve tiroteios perto ou dentro de nossos centros”.

A ONU afirma que 859 pessoas foram mortas perto dos locais da GHF entre 27 de maio e 31 de julho, e que centenas de outras morreram ao longo das rotas dos comboios de alimentos liderados pela própria ONU.

A GHF afirma que seus seguranças armados usaram apenas spray de pimenta ou tiros de advertência para evitar tumultos fatais. As Forças de Defesa de Israel (IDF) também afirmam disparar apenas tiros de advertência. Ambos os lados dizem que o número de mortos foi exagerado.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que 93 crianças e 82 adultos já morreram por causas relacionadas à desnutrição.

A ONU diz que seriam necessários de 500 a 600 caminhões de ajuda humanitária por dia para atender às necessidades dos dois milhões de habitantes de Gaza, mas apenas uma fração disso tem conseguido entrar — o que a organização chama de “catástrofe humanitária fabricada pelo homem”.

Mortes por desnutrição não estão incluídas na contagem oficial de vítimas da guerra, segundo o ministério.

O total de mortos por ataques israelenses em Gaza, segundo o ministério, já se aproxima de 61 mil. Os dados não distinguem entre civis e combatentes.

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