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COP30 aprova acordo climático incômodo que ignora preocupações sobre combustíveis fósseis
Negacionismo

COP30 aprova acordo climático incômodo que ignora preocupações sobre combustíveis fósseis

“Acordo fracassado” feito sob “negacionismo climático”, diz negociadora colombiana

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Via CBC

Tempo de leitura: 5 minutos.

A presidência brasileira da COP30 aprovou no sábado um acordo climático de compromisso que aumentaria o financiamento para países pobres que lidam com o aquecimento global, mas que omitiu qualquer menção aos combustíveis fósseis que o impulsionam.

Ao garantir o acordo, o Brasil tentou demonstrar unidade global no enfrentamento dos impactos da mudança climática, mesmo depois de o maior emissor histórico do mundo, os Estados Unidos, terem se recusado a enviar uma delegação oficial.

Mas o acordo — concluído com atraso após duas semanas de negociações contenciosas na cidade amazônica de Belém — expôs profundas fissuras sobre como a ação climática futura deve ser conduzida.

Após bater o martelo, André Corrêa do Lago, presidente da conferência deste ano, reconheceu que as negociações foram difíceis.

“Sabemos que alguns de vocês tinham ambições maiores para alguns dos temas em discussão”, disse ele.

A correspondente internacional de clima da CBC, Susan Ormiston, explica o que aconteceu quando manifestantes invadiram a conferência

Vários países se opuseram ao fim da cúpula sem planos mais robustos para conter os gases de efeito estufa ou abordar os combustíveis fósseis.

Algumas críticas vieram dos vizinhos do Brasil na América Latina, com múltiplas objeções feitas por Colômbia, Panamá e Uruguai, antes de Corrêa do Lago suspender a plenária para novas consultas.

Plano de eliminação dos combustíveis fósseis é retirado do rascunho do acordo da ONU

Observando que os combustíveis fósseis eram de longe os maiores responsáveis pelas emissões que aquecem o planeta, a negociadora da Colômbia disse que seu país não poderia aceitar um acordo que ignorasse a ciência.

“Um consenso imposto sob negacionismo climático é um acordo fracassado”, disse a negociadora colombiana.

Os três países disseram que não se opunham ao acordo político geral da COP30, mas sim a um dos textos técnicos que os países deveriam aprovar ao final da cúpula, juntamente ao acordo principal.

Os três haviam se unido à União Europeia na exigência de que o acordo incluísse linguagem sobre uma transição longe dos combustíveis fósseis — enquanto uma coalizão de países, incluindo o maior exportador de petróleo do mundo, a Arábia Saudita, afirmou que qualquer menção a combustíveis fósseis era inaceitável.

Após tensas negociações ao longo da noite, a UE concordou na manhã de sábado em não bloquear um acordo final, mas disse que não concordava com suas conclusões.

“O deveríamos apoiar [o acordo] porque pelo menos ele está indo na direção correta”, disse o comissário climático da UE, Wopke Hoekstra, antes de sua aprovação.

O negociador climático do Panamá, Juan Carlos Monterrey Gómez, disse antes da plenária final que seu país não estava satisfeito com o resultado da cúpula.

“Uma decisão climática que não consegue nem dizer ‘combustíveis fósseis’ não é neutralidade, é cumplicidade. E o que está acontecendo aqui transcende a incompetência”, afirmou.

‘Temo que o mundo ainda tenha ficado aquém’

A cúpula também lança uma iniciativa voluntária para acelerar a ação climática e ajudar países a cumprir suas promessas atuais de reduzir emissões, além de pedir que nações ricas pelo menos tripliquem o valor do financiamento para países em desenvolvimento se adaptarem a um mundo em aquecimento até 2035.

Países em desenvolvimento argumentam que precisam urgentemente de recursos para se adaptar a impactos já em curso, como aumento do nível do mar e ondas de calor, secas, enchentes e tempestades mais intensas.

Avinash Persaud, assessor especial do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, disse que o foco do acordo em financiamento é importante diante do aumento dos impactos climáticos.

“Mas temo que o mundo ainda tenha ficado aquém no que diz respeito à liberação rápida de subsídios para países em desenvolvimento responderem a perdas e danos. Esse objetivo é tão urgente quanto difícil”, disse Persaud.

Vários países, incluindo Serra Leoa, também se opuseram na plenária final ao enfraquecimento das diretrizes sobre o que deveriam medir em áreas como segurança alimentar para se preparar para os impactos climáticos.

O delegado de Serra Leoa disse que a lista de indicadores aprovada “não é a lista elaborada por especialistas e não descreve claramente a nossa realidade”.

“Em vez disso, deixamos a COP com indicadores que são pouco claros, não mensuráveis e, em muitos casos, inutilizáveis. Então devemos nos perguntar: como estamos ajudando os mais vulneráveis se essa é a qualidade dos resultados que chamamos de ambição?”, afirmou Jiwoh Emmanuel Abdulai, ministro do clima de Serra Leoa.

UE e grupo árabe em confronto sobre combustíveis fósseis

O impasse noturno entre a União Europeia e o grupo árabe de nações sobre combustíveis fósseis empurrou as negociações para além do prazo de sexta-feira, gerando discussões madrugada adentro até que um compromisso fosse alcançado.

Corrêa do Lago disse na manhã de sábado que a presidência estava emitindo um texto paralelo sobre combustíveis fósseis — e também sobre proteção das florestas — deixando-o fora do acordo principal devido à falta de consenso.

Mas pediu que os países continuassem debatendo o tema.

O acordo de sábado também inicia um processo para que organismos climáticos revisem como alinhar o comércio internacional à ação climática, em meio a preocupações de que barreiras comerciais crescentes estejam limitando a adoção de tecnologias limpas.

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