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Terror fascista e hostilidade militar marcam posse de Lula no Brasil
Antifascismo

Terror fascista e hostilidade militar marcam posse de Lula no Brasil

A posse do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), marcada para 1º de janeiro, está sendo preparada sob a sombra de conspirações fascistas no país.

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Tempo de leitura: 8 minutos.

Via WSWS

As crescentes ameaças de violência de extrema-direita ficaram explícitas na última semana com a denúncia de uma conspiração terrorista de partidários do atual presidente fascista Jair Bolsonaro, que ainda não admitiu ter perdido a eleição para Lula. O objetivo declarado das ações planejadas era impedir a transferência do poder para o governo eleito e abrir caminho para um golpe autoritário.

Na véspera de Natal, o fascista George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, foi preso em Brasília após um ataque a bomba fracassado no aeroporto da capital brasileira.

Sousa confessou ter armado o explosivo, que segundo ele foi colocado por outro homem, Alan Diego Rodrigues, em um caminhão-tanque que seguia para o Aeroporto Internacional de Brasília (BSB) carregado com combustível de aviação. A bomba foi retirada nas proximidades do aeroporto pelo caminhoneiro, que identificou o estranho objeto e acionou a polícia. O levantamento da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu que a bomba foi detonada, mas falhou devido a “um micro detalhe técnico no detonador”.

Em depoimento às autoridades, Sousa revelou ter planejado essa e outras ações, como a explosão de uma subestação de energia na capital, junto com outros fascistas apoiadores de Bolsonaro. Ele afirmou que o objetivo era “iniciar o caos” que “levaria à intervenção das Forças Armadas e à decretação do estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

O ativista pró-Bolsonaro se identificou como gerente de posto de gasolina e ex-pára-quedista (supostamente do Exército Brasileiro). Ele foi preso em um imóvel alugado em Brasília, a mais de 700 quilômetros de sua residência no estado do Pará.

Sousa, inspirado pelas “palavras do presidente Bolsonaro”, viajou à capital no dia 12 de novembro portando “duas espingardas calibre 12, dois revólveres calibre .357… um fuzil Springfield calibre .308, mais de mil cartuchos de munição de vários calibres e cinco bananas de dinamite”, disse o relatório da polícia. Ele afirma ter investido 160 mil reais (US$ 32 mil) em seu arsenal, o equivalente a cerca de três anos de sua renda declarada.

Sousa declarou que o objetivo de sua viagem a Brasília era “participar dos protestos que aconteciam em frente ao quartel-general do Exército e aguardar o sinal para que as Forças Armadas pegassem em armas e derrubassem o comunismo”. Ele disse que planejava distribuir parte de suas armas e munições para outros participantes dessa turba fascista.

Esse movimento armado de ultradireita, embora procure se apresentar como uma iniciativa individual e espontânea, tem conexões diretamente rastreáveis ​​com Bolsonaro e sua comitiva e com os escalões superiores dos militares e da polícia.

Nos últimos dois meses, o acampamento fascista em Brasília do qual Sousa participou tem sido foco de uma série de ações coordenadas por aliados de Bolsonaro para contestar o resultado da eleição brasileira. A ideia de que indivíduos como Sousa são atores políticos independentes é imediatamente refutada pelos registros dessas ações.

Em 30 de novembro, Sousa e Alan Diego Rodrigues, seu cúmplice atualmente foragido, compareceram a uma audiência no Senado organizada por políticos ligados ao presidente fascista como uma plataforma para promover sua narrativa conspiratória de fraude eleitoral e defender abertamente um golpe militar.

Nas redes sociais, Rodrigues exibe fotos pessoais ao lado dos políticos que organizaram esta ação no Senado, como os deputados Zé Trovão, do Partido Liberal (PL) de Bolsonaro, e Daniel Silveira do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de extrema direita, que foi anistiado pelo presidente fascista após ser condenado por agitar um golpe de estado.

Na véspera da audiência no Senado, no dia 24 de novembro, a deputada Carla Zambelli (PL), uma das principais aliadas de Bolsonaro, visitou o acampamento fascista nas portas do quartel-general do Exército ao lado do marido, coronel Aginaldo de Oliveira, chefe do da Força Nacional de Segurança Pública até março deste ano.

Falando à multidão, Zambelli, que também é acusada de violência política durante a eleição de outubro, afirmou que estava organizando “uma ação no Senado que vai abalar as estruturas do Senado”. Ela acrescentou: “Conte conosco. Enquanto você estiver aqui, saiba que você tem pessoas trabalhando às vezes nos bastidores… e não vou descansar um segundo até conseguirmos nossa liberdade.”

No dia 12 de dezembro, duas semanas antes da ação que levou à prisão de Sousa, os integrantes desse acampamento fascista realizaram violentos protestos em Brasília contra o evento que oficializou a vitória de Lula. Enfrentando praticamente nenhuma intervenção policial, o pequeno grupo de manifestantes de extrema-direita atacou prédios e incendiou mais de uma dúzia de carros e ônibus em toda a capital. Vídeos mostram Rodrigues presente em diferentes momentos do dia, ora caminhando entre policiais, ora em barricadas ou próximo a veículos em chamas.

As ações violentas decretadas por esses soldados fascistas, tanto em 12 de dezembro quanto em 24 de dezembro, podem estar diretamente ligadas à orientação política fornecida por Bolsonaro nos dias anteriores.

Em seu primeiro discurso político extenso desde a derrota eleitoral em 30 de outubro, Bolsonaro se dirigiu a seus apoiadores em Brasília (provavelmente Rodrigues e Sousa entre eles) apenas três dias antes da confirmação oficial da vitória de Lula. Seu discurso instigou e deu legitimidade à violência fascista perpetrada nos dias seguintes. Bolsonaro disse:

“Tenho certeza de que, entre minhas funções garantidas pela Constituição, está a de chefe supremo das Forças Armadas. … Sempre disse, ao longo destes quatro anos, que as Forças Armadas são o último obstáculo ao socialismo. As Forças Armadas, com certeza, estão unidas.”

Ele acrescentou: “Hoje estamos vivendo um momento crucial, em uma encruzilhada, um destino que o povo deve assumir. É você quem decide meu futuro e para onde vou. São vocês que decidem para onde vão as Forças Armadas. Quem decide para onde vai o Congresso, o Senado, é você também”.

O silêncio de Bolsonaro após os atos violentos cometidos por seus apoiadores, como em ocasiões anteriores, é um sinal incontestável de aprovação.

As Forças Armadas, às quais apelam tanto o presidente quanto seus partidários fascistas, também se mantiveram em silêncio sobre esses acontecimentos. Esse silêncio é ainda mais sinistro diante de uma declaração extraordinária do Comando das Forças Armadas sobre as manifestações fascistas exigindo um golpe militar. Em 11 de novembro, os comandantes emitiram uma nota oficial caracterizando esse movimento como “manifestações populares” e afirmando o “compromisso inabalável dos militares com o povo brasileiro” e seu papel histórico como “poder moderador”.

A exacerbação das tensões políticas nos últimos dias levou a equipe de Lula a fazer preparativos e acordos inéditos para a cerimônia de domingo.

A equipa exigiu o encerramento da Esplanada dos Ministérios a partir de sexta-feira para o rastreio de bombas, o emprego da Força Nacional de Segurança Pública e a mobilização de 8.000 agentes de segurança para o Dia da Posse. Ainda está em discussão se Lula irá à cerimônia em carro conversível, como é de praxe no Brasil, ou em veículo blindado.

As mudanças no protocolo foram motivadas não apenas por temores de ações individuais de terrorismo, mas da participação direta de órgãos estatais e militares em um possível golpe em Brasília.

A equipe de Lula decidiu tirar sua segurança pessoal das mãos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e reduzir drasticamente a tradicional participação do GSI na cerimônia de posse. O GSI é comandado atualmente pelo general Augusto Heleno, que recentemente lamentou em público o fato de o presidente eleito, Lula, “não estar doente… infelizmente”.

Em outra decisão extraordinária, o ministro da Defesa indicado por Lula, José Múcio Monteiro, negociou a antecipação da troca de comando da Marinha e do Exército, tradicionalmente realizada após a posse presidencial. A ação foi uma manobra preventiva contra as crescentes ameaças de insubordinação dos chefes militares ao novo governo.

A possibilidade de acelerar a troca de comando surgiu inicialmente como uma ameaça ao governo eleito pelos próprios chefes militares. A escolha de Lula do favorito dos generais, Múcio, para o Ministério da Defesa, elogiado na imprensa como um gesto de subordinação do governo do PT aos militares, teria feito a proposta retroceder.

No entanto, a decisão, tomada às pressas na segunda-feira em meio a rumores de que o comandante da Marinha, Almir Garnier, estaria disposto a renunciar ao cargo, deixou claro que a crise do governo do PT com os militares está longe de ser resolvida.

A atitude que Bolsonaro assumirá no dia da posse permanece uma incógnita. A mídia anunciou que, segundo seus aliados, o presidente não comparecerá à cerimônia, quebrando os protocolos básicos da democracia brasileira e manifestando seu persistente desafio ao resultado da eleição.

Em vez de comparecer ao evento, há relatos de que o fascista presidente brasileiro pretende viajar ainda esta semana para a Flórida e passar os próximos dias no complexo Mar-a-Lago de Donald Trump. As ligações entre os planos de golpe de Bolsonaro no Brasil e os aliados de Trump envolvidos na organização da invasão do Capitólio dos EUA e tentativa de golpe em 6 de janeiro de 2021 já foram estabelecidas.

Bolsonaro afirmou em entrevista à CNN que as notícias de que ele faria uma reunião de despedida de seu governo em Brasília e depois viajaria para a Flórida eram “notícias falsas”.

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