Via The Guardian
Um grupo de direita brasileiro liderado por um líder de culto messiânico que alegava estar em contato com alienígenas que praticaram atos terroristas para justificar a repressão da ditadura militar do país, de acordo com documentos de arquivo recentemente descobertos.
A revelação chegou dias antes das eleições presidenciais do país [em 2018], em meio a uma campanha polarizada na qual o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro elogiou a era da ditadura como uma era de ouro.
De acordo com uma investigação da agência de notícias independente Publica, que se baseou em documentos de arquivo, o grupo paramilitar levou a cabo ataques terroristas para que os governantes militares pudessem apertar a repressão.
Documentos de arquivo – incluindo registros de interrogatórios de membros do grupo – revelaram que os ataques foram secretamente encorajados por um general que era próximo ao então presidente Arthur da Costa e Silva e em contato com a polícia federal.
As revelações se somaram a outros relatos de ataques terroristas patrocinados pelo estado e pela direita durante o regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985.
“Sempre houve uma certa suspeita de que grupos de direita tivessem se organizado para fazer alguns ataques. O que é surpreendente é a riqueza de detalhes nestes documentos”, disse Luiz Dias, professor de história da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em ditadura no Brasil.
O grupo foi liderado por Aladino Félix, que escreveu um livro chamado “Meu contato com discos voadores” sob o pseudônimo de Dino Kraspedon, alegou ser o messias do povo judeu e tinha servido no exército durante a Segunda Guerra Mundial.
“Ele era visto como um louco”, disse Vasconcelo Quadros, que conduziu a investigação, “mas ele tinha um relacionamento com as autoridades”.
Félix liderou um grupo de 14 policiais que, entre dezembro de 1967 e agosto de 1968, realizou uma série de atos terroristas – detonando 14 bombas, roubando armas e explosivos e assaltando um banco. Os alvos incluíam a Bolsa de Valores de São Paulo, uma sede secreta da polícia e um oleoduto.
Em março de 1968, grupos armados de esquerda também começaram a plantar bombas. E com o aumento da violência, em dezembro de 1968, o governo militar usou o terrorismo de esquerda como justificativa para introduzir um decreto histórico que tocou os poderes da ditadura, inaugurando seu período mais repressivo, que ficou conhecido como os anos de chumbo, ou anos de chumbo.
Um relatório de 2014 da comissão da verdade do Brasil culpou a ditadura por 434 assassinatos e desaparecimentos.
Félix e seu grupo foram presos em 1968. Félix cumpriu um pouco mais de três anos de prisão, disse Quadros, e acabou morrendo em 1985.
Em 1981, um sargento foi morto e um capitão ferido quando uma bomba em um carro em que estavam esperando no centro de convenções do Rio Centro, no Rio de Janeiro, explodiu. Ambos eram membros da agência de inteligência Doi-Codi, revelou um documento da CIA publicado este ano.