Por Projeto Brasil Real é um País que Luta
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No dia 29 de abril de 2015, Curitiba foi palco de mais um dos episódios trágicos da história da educação pública no Paraná e no Brasil: a repressão violenta contra professores em greve, ordenada pelo então governador Beto Richa. O que ficou conhecido como o “Massacre do Centro Cívico”, foi uma escalada nos ataques do governo estadual aos servidores da educação, que se viam cada vez mais oprimidos por medidas administrativas e econômicas que retiravam direitos e afetavam diretamente as condições de trabalho.
A greve dos professores, palco da violência brutal de 29 de abril, teve início em fevereiro de 2015. A paralisação foi motivada por uma série de fatores, entre eles o ataque do governo ao regime de previdência dos servidores estaduais. O projeto de lei previa a utilização de recursos do Fundo Previdenciário para cobrir o déficit do Fundo Financeiro, o que colocava em risco a aposentadoria de milhares de servidores.
Além disso, as reivindicações também eram por melhores condições de trabalho, como a recomposição salarial, que estava defasada, e a garantia de direitos, como o pagamento das promoções e progressões de carreira. O descaso do governo com a educação pública, que avançava, de maneira arbitrária, contra os direitos das trabalhadoras e trabalhadores da educação, mantendo a tradição dos governos de direita no Paraná, foi o estopim para a mobilização. A greve era a única resposta suficientemente à altura para enfrentar os ataques.
O movimento grevista em 2015 atingiu proporções enormes, uma vez que o pacote de ataques do governo atingiria toda a comunidade escolar, entre professores, pedagogos, funcionários antigos, funcionários novos, professores temporários etc. Em diversas cidades do estado, houve adesão de 100% das escolas à paralisação. A força crescente do movimento, que se iniciou em fevereiro e foi retomado em março, representava um incômodo para o governo estadual.
Ao longo dos meses que antecederam o 29 de abril, diversas tentativas de negociação foram realizadas, mas todas esbarraram na intransigência do governo. O clima de insatisfação e revolta entre os professores aumentava, levando à adesão massiva à greve e a uma série de manifestações e atos públicos em todo o estado. A tensão crescia, e o governo seguia apostando na truculência como resposta.
O dia 29 de abril de amanheceu com milhares de professores e servidores públicos reunidos no Centro Cívico de Curitiba, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). O objetivo era acompanhar a votação do projeto de lei que confiscaria a previdência. A ação do movimento grevista tinha como intenção pressionar os deputados a rejeitarem a proposta do governo, um ataque brutal aos direitos dos trabalhadores.
Entretanto, o que se seguiu foi uma ação policial que chocou o Brasil e o mundo. Por ordem do governador, um grande contingente de policiais militares foi mobilizado para reprimir os manifestantes. Sob a alegação de garantir a segurança e a ordem pública, a tropa de choque cercou a praça e bloqueou todas as vias de acesso à ALEP, dispersando o ato com violência e expulsando os servidores da praça em frente à Assembleia Legislativa.
Por volta das 15 horas, a violência chegou ao extremo quando a tropa de choque da Polícia Militar, iniciou uma ofensiva brutal contra os manifestantes. Bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d’água foram usados indiscriminadamente. Foram atingidos professores, mas também outros servidores públicos, estudantes e até crianças e idosos que participavam do ato. Em poucos minutos, a praça se transformou em um campo de batalha.
As imagens de professores sendo agredidos, muitos deles feridos gravemente, correram o mundo. Mais de 200 pessoas ficaram feridas, algumas em estado grave. Entre os feridos, havia pessoas que sofreram fraturas, queimaduras e lesões por balas de borracha. As cenas de violência geraram uma onda de indignação e revolta em todo o país.
O massacre do Centro Cívico teve profundas repercussões políticas. A brutalidade da repressão gerou uma crise de legitimidade para o governo Beto Richa, que foi duramente criticado por sua postura autoritária. Diversos movimentos sociais, sindicatos e organizações de direitos humanos denunciaram a truculência do governo e exigiram a responsabilização dos envolvidos. A ação policial foi alvo de investigações, e o governo estadual tentou se justificar, alegando que a medida era necessária para manter a ordem.
A greve dos professores estaduais em 2015 e seus desdobramentos, tendo como momento mais marcante a repressão violenta da luta das servidoras e servidores da educação, que colocou em questão mesmo a garantia dos direitos de manifestação, de organização para a defesa dos direitos, foi um reflexo do aprofundamento da crise do neoliberalismo a nível nacional e internacional. O avanço das políticas de arrocho salarial, de ajuste fiscal e privatização, das quais o Paraná segue sendo laboratório, impõe a violência como método para frear qualquer forma de resistência.
Em um cenário onde temos não mais a direita tradicional, mas a extrema-direita localizada ao centro do tabuleiro político local, nacional e internacional, escalando na violência como método político, o que ficou escancarado no último movimento grevista, ainda este ano, onde os professores que aderiram à greve contra o projeto de privatização das escolas sofreram forte assédio moral do governo do estado e foram ameaçados com desconto salarial, violando o direito de greve, a luta dos professores deixa lições fundamentais: se a violência é a aposta e a resposta dos poderosos, a luta de maioria social é nossa única arma.