Por Projeto Brasil Real é um País que Luta
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A Revolta da Balaiada, ocorrida entre 1838 e 1841, foi um significativo movimento de resistência popular no Brasil Imperial. Ocorreu no Maranhão, um dos estados do Nordeste, marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas. A insurreição surgiu como resultado da revolta das camadas mais empobrecidas, em especial dos sertanejos, escravizados e trabalhadores livres, contra as elites dominantes.
O Brasil vivia, naquele período, o período regencial, marcado pela instabilidade política e social depois da abdicação de Dom Pedro I em 1831. A Regência era uma forma de governo transitória até que o futuro imperador, Dom Pedro II, atingisse a maioridade. Esse período foi atravessado por diversas revoltas populares em várias províncias, como a Cabanagem no Pará e a Sabinada na Bahia. A Balaiada tem como palco esse contexto de crise, sinalizando a indignação e a revolta das classes populares contra o poder centralizado no Rio de Janeiro e com as elites locais.
No Maranhão, a economia era predominantemente agrária, baseada na produção de algodão, arroz e cana-de-açúcar. A região era fortemente marcada pela presença de latifúndios e pela exploração do trabalho escravizado. Além disso, as elites locais, conhecidas como “bem-te-vis”, dominavam a política e a economia da província, enquanto a maioria da população, formada por pequenos agricultores, escravos, artesãos e vaqueiros, vivia em condições de extrema pobreza e marginalização.
A insatisfação popular cresceu, principalmente devido à crise econômica que afetou a região no final da década de 1830. A queda dos preços do algodão no mercado internacional e as política aplicadas pela administração pública contribuíram para agravar a situação, provocando um aumento da miséria e da fome. Além disso, as elites locais, apoiadas na Guarda Nacional, apostaram na repressão para manter a ordem e proteger seus interesses, o que aumentou as tensões e desgastes que atingiam diretamente a ordem estabelecida.
A Balaiada começou em dezembro de 1838, na Vila da Manga, hoje cidade de Nina Rodrigues, no Maranhão. O primeiro grande episódio da revolta foi a fuga de escravizados de uma fazenda da região, que se juntaram a trabalhadores pobres e artesãos. O líder inicial do movimento foi Raimundo Gomes, conhecido como “Cara Preta”, que era vaqueiro. Ele iniciou o levante após a prisão arbitrária de seu irmão. Os insurgidos, liderados por Raimundo, invadiram a cadeia local e libertaram não apenas o seu irmão, mas também outros presos. Esse episódio foi o estopim para que outros grupos se unissem à revolta.
Outro importante líder da Balaiada foi Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, apelidado de “Balaio”, um artesão que fabricava balaios, daí o nome da revolta. Ele se juntou ao movimento depois que sua família foi violentamente agredida pela Guarda Nacional. Balaio liderou revoltas contra as grandes propriedades dos latifundiários, onde os bens apropriados eram distribuídos entre os pobres. A rebelião rapidamente se espalhou pelas áreas rurais do Maranhão e alcançou outras províncias vizinhas, como o Piauí e o Ceará.
A força do movimento era justamente a potência da participação de amplos setores das classes exploradas e oprimidas. Além de vaqueiros e artesãos, a revolta contou com a participação de escravizados fugidos, indígenas e trabalhadores rurais, ambos resistindo contra as condições de vida impostas pela opressão das elites. A união dessas forças populares tornou a Balaiada uma das mais temidas revoltas do período regencial.
Em seu auge, os balaios chegaram a ocupar a cidade de Caxias, que era um dos principais centros urbanos do Maranhão. A tomada de Caxias, em 1839, representou o ápice do movimento, que colocou em xeque a autoridade das elites locais e do governo. Com a tomada da cidade, os balaios passaram a controlar uma vasta região do Maranhão, o que alarmou as autoridades imperiais no Rio de Janeiro.
Em resposta à crescente ameaça representada pela Balaiada, o governo central decidiu enviar tropas para reprimir o movimento. Em 1840, o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que mais tarde seria conhecido como Duque de Caxias, foi nomeado comandante das forças imperiais no Maranhão. Com um exército organizado, Caxias iniciou uma campanha militar para retomar os territórios ocupados pelos balaios e restabelecer a poderio do poder central na província.
Caxias adotou uma estratégia de guerra de atrito, buscando enfraquecer os rebeldes por meio de emboscadas e cortes nas linhas de suprimento. Além disso, ele tentou atrair para seu lado alguns dos líderes rebeldes, oferecendo anistia e cargos administrativos em troca da rendição. Essa tática foi eficaz em dividir o movimento e enfraquecer sua liderança.
A Balaiada começou a perder força a partir de 1841. Com a morte de Balaio em combate e a prisão de Raimundo Gomes, o movimento perdeu dois de seus principais líderes. Sem uma liderança centralizada e enfrentando dificuldades em manter a coesão entre seus membros difusos, a revolta foi progressivamente sufocada pelas tropas imperiais. A cidade de Caxias foi recapturada por Caxias em 1841, marcando o fim da Balaiada como uma força organizada.
A repressão foi brutal. Milhares de rebeldes foram mortos em combate ou executados sumariamente após serem capturados. Os sobreviventes enfrentaram longas penas de prisão ou foram deportados para outras regiões do Brasil. A derrota da Balaiada consolidou a posição das elites locais e do governo imperial, mas deixou um legado de resistência popular que ecoaria em outras revoltas e movimentos sociais ao longo do século XIX.
A Balaiada destacou-se entre os movimentos populares, como um reflexo, e também uma resposta, às profundas desigualdades sociais e à política imperial. Apesar de ter sido derrotada, a revolta abriu uma fissura ao colocar em xeque o governo regencial e ameaçar diretamente o poder central.
Foi também na violenta resposta organizada pelo poder estatal à Revolta da Balaiada que se fortaleceu a reputação do Exército Brasileiro como força defensora da “unidade nacional”, unidade construída não pela convergência, mas pela violência e repressão orquestradas pelas classes dominantes.
Saiba Mais
LUZ, Gerlandia da. A REVOLTA BALAIADA NO MARANHÃO. 2016.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-90742005000100003
CRUZ FILHO, Magno. Uma leitura crítica da Balaiada. 2019.
Disponível em: https://repositorio.uema.br/handle/123456789/812
ABRANTES, Elizabeth Sousa; MATEU, Yuri Givago Alhadef Sampaio. A Balaiada: luta por cidadania no Maranhão Imperial Revolta que chegou a envolver 12 mil homens e mais de uma província no Brasil Império levantou bandeiras pautadas em direitos fundamentais. Temida pelas elites, ela foi violentamente reprimida pelo governo e combatida até mesmo no plano da memória e da história.
Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/a-balaiada-luta-por-cidadania-no-maranhao-imperial/