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‘Está no nosso DNA ser antifascista’: a ‘rainha do TikTok’ da esquerda alemã, Heidi Reichinnek
Antifascismo

‘Está no nosso DNA ser antifascista’: a ‘rainha do TikTok’ da esquerda alemã, Heidi Reichinnek

Um discurso poderoso no Bundestag a tornou famosa e inspirou jovens eleitores a reagir contra a extrema direita

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Via The Guardian

Tempo de leitura: 4 minutos.

Foto: ZdF/Reprodução

O mais novo tatuagem no antebraço direito de Heidi Reichinnek diz “Mulher Raivosa”. Um “presente para mim mesma”, diz ela, após o inesperado retorno de seu partido, Die Linke (A Esquerda), ao parlamento alemão nas eleições de fevereiro.

Meses antes do pleito, era amplamente previsto que o partido de extrema-esquerda — sucessor dos comunistas da Alemanha Oriental — seria dizimado. Mas os céticos estavam errados: o Die Linke conquistou quase 9% dos votos, um aumento de quase 4% em relação à eleição anterior, garantindo 64 cadeiras no novo Bundestag.

Grande parte do crédito por essa ascensão foi atribuída a Reichinnek, que, na campanha eleitoral, fez um discurso inflamado criticando o novo chanceler, Friedrich Merz, por utilizar os votos da extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) para tentar aprovar uma reforma migratória.

“Não desistam, lutem, resistam ao fascismo… Vamos todos às ruas… às barricadas!”, exortou a deputada de 36 anos a seus colegas e ao público. O discurso, segundo Reichinnek, foi espontâneo — “Rabisquei algumas coisas rapidamente, mas não consegui ler minha própria letra” — e se revelou explosivo.

Compartilhado quase 30 milhões de vezes em apenas cinco dias, tornou-se o discurso mais assistido da história do Bundestag e catapultou Reichinnek — hoje a política mais popular entre as mulheres, segundo as pesquisas — a um nível de estrelato político que poucos imaginavam meses atrás.

Reichinnek ganhou apelidos como “rainha do TikTok” por seus vídeos sobre violência doméstica, contracepção, aluguel e migração, que atraíram especialmente jovens eleitoras. Ela entrou para o Die Linke em 2015 e se tornou porta-voz da bancada parlamentar no ano passado.

Sempre que sobe ao púlpito no Bundestag, é recebida com vaias bem-humoradas — principalmente dos bancos da CDU e da AfD. As câmeras frequentemente mostram Merz e seus colegas revirando os olhos. Ela admite ter desenvolvido uma “casca grossa” para lidar com críticos que a consideram “woke demais” ou que seu visual de ativista é “calculado”.

Sua resposta? “Minha política é baseada nas preocupações reais das pessoas”, diz, citando sua luta contra o aluguel abusivo e pela legalização do aborto (que ainda é tecnicamente ilegal na Alemanha, salvo exceções). E rebate: “No fim das contas, você age por solidariedade com os outros ou você é um babaca?”

Para Reichinnek, combater a extrema direita exige política social forte. “Estudos mostram repetidamente que pessoas em situação econômica precária tendem a votar em extremistas de direita. Precisamos enfrentar isso.”

Ela critica o desmonte de serviços públicos, baixos salários, aposentadorias desvalorizadas, hospitais fechando, escolas decadentes, pontes em colapso. “Claro que as pessoas estão frustradas. Não é desculpa para votar na AfD, mas é uma razão que deve ser enfrentada.”

Crítica feroz ao novo governo, ela classifica o acordo de coalizão como “irresponsável” e “covarde”, especialmente no que diz respeito aos planos de Merz de rearmamento e reformas fiscais. Sobre a guerra na Ucrânia, defende mais pressão diplomática sobre Putin em vez de mais armas — posição que a esquerda defende, mesmo sendo frequentemente atacada por parecer pró-Rússia.

Reichinnek nasceu na antiga Alemanha Oriental e entrou na política como conselheira municipal e educadora juvenil em Osnabrück. Ela se tornou a deputada que fala mais rápido do parlamento — até 200 palavras por minuto. “Útil para o TikTok”, brinca. “Os jovens dizem que não precisam acelerar o vídeo para me entender.”

Seu objetivo agora é aproveitar o impulso conquistado. Recentemente participou de uma reunião do Die Linke em Osnabrück. “Havia muitos jovens entre os novos membros, todos querendo fazer a diferença”, diz. “É isso que mais importa para mim.”

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