Populista tcheco Babiš assina acordo de coalizão com eurocéticos de extrema direita
O bilionário populista tcheco Andrej Babiš e seu partido ANO assinaram um acordo de coalizão com pequenos aliados de extrema direita nesta segunda-feira, aproximando-se de retomar o poder após vencer uma eleição com promessas de aumentar os gastos públicos e se opor às políticas da União Europeia (UE) sobre clima e migração
O retorno de Babiš com a extrema direita
O retorno de Babiš ao poder com esses aliados marginais reforçará o campo populista, anti-imigração e nacionalista dentro da União Europeia — um bloco que pode enfraquecer o apoio à defesa da Ucrânia contra a invasão russa.
Babiš, de 71 anos, foi primeiro-ministro de 2017 a 2021. Agora, une forças com o partido dos Motoristas (cético quanto às mudanças climáticas) e o SPD, partido antagônico à UE e à OTAN. Ele afirmou que pretende formar um governo até meados de dezembro.
Um afastamento da Ucrânia
Se nomeado, um governo liderado pelo ANO substituirá a atual coalizão de centro-direita, que tem priorizado reduzir o déficit orçamentário e apoiar a Ucrânia.
Babiš prometeu encerrar qualquer ajuda à Ucrânia proveniente do orçamento tcheco. Antes da eleição, realizada há um mês, ele também se comprometeu a encerrar um programa, liderado pela República Tcheca e financiado por países estrangeiros, de envio de munições para Kiev, embora tenha adotado um tom mais ambíguo após o presidente Petr Pavel pedir que os partidos mantivessem o programa.
O projeto de programa de governo da coalizão não define metas específicas de gastos — ao contrário do governo atual, que planejava elevar gradualmente os gastos militares para atingir a nova meta da OTAN de 3,5% do PIB, além de 1,5% destinados a melhorias em infraestrutura.
Confrontos com a União Europeia
Babiš adota agora uma postura mais combativa em relação à UE, prometendo rejeitar o esquema europeu de cotas de emissões de carbono para residências, o que pode gerar um conflito jurídico com Bruxelas.
O projeto da coalizão descreve o Pacto Verde Europeu (Green Deal) como “insustentável” e chama a meta de 2035 para o fim das vendas de motores a combustão de “inaceitável”.
Mesmo assim, Babiš reiterou nesta segunda-feira que não pretende questionar a adesão do país à UE ou à OTAN:
“Nossa orientação é clara, mas não estaremos lá apenas para aparecer… No Conselho Europeu, e também na OTAN, estaremos lutando pelos nossos interesses”, declarou Babiš a jornalistas.
Ele defende uma União Europeia dirigida pelos Estados-membros, e não pela Comissão Europeia. Durante seu mandato anterior, a Comissão concluiu que Babiš possuía conflito de interesses, devido à sua propriedade de um grande império agrícola e químico.
Alianças regionais e política externa
Babiš é aliado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e simpatiza com o Grupo de Visegrado, que inclui Hungria, Eslováquia e Polônia. O grupo, porém, permanece dividido quanto à guerra da Rússia contra a Ucrânia — com a Polônia firmemente oposta à Rússia, enquanto Hungria e Eslováquia adotam posições mais pró-Moscou.
Déficits e promessas econômicas
Durante seu mandato, o governo atual reduziu o déficit orçamentário de 5% para 2% do PIB.
Analistas estimam que os planos de Babiš — que incluem reduzir impostos para empresas, aumentar salários do setor público, fixar idade máxima de aposentadoria e subsidiar preços de energia — custarão bilhões de euros, sem fontes claras de financiamento.
As três legendas da coalizão concordaram em manter o déficit abaixo do limite de 3% do PIB imposto pela UE. O grupo também prometeu não adotar medidas rumo à adoção do euro e propôs incluir a coroa tcheca na Constituição, embora o país já tenha se comprometido, em algum momento, a adotar a moeda comum europeia.
