Romênia é sacudida por candidato de extrema direita que lidera nas eleições

Foto: Calin Georgescu (Octav Ganea/Reprodução)

Desafiando todas as previsões, o político populista favorável à Rússia, Calin Georgescu, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais da Romênia no domingo – sinalizando que o estado membro da UE aderiu à tendência crescente da extrema direita na região.

Georgescu, 62 anos, que não tem partido próprio, obteve cerca de 23% dos votos, com mais de 99% das cédulas apuradas.

À meia-noite de domingo, Georgescu saudou a votação do primeiro turno como uma vitória do “povo romeno”.

Em outra grande surpresa, Elena Lasconi, de centro-direita, líder do partido reformista União para Salvar a Romênia, ficou em segundo lugar, apenas algumas centenas de votos à frente do primeiro-ministro Marcel Ciolacu, que lidera o Partido Social Democrata.

George Simion, líder da Aliança Nacionalista para a União dos Romenos, ficou em quarto lugar.

As previsões dos especialistas antes da votação colocavam Ciolacu e Simion como os favoritos.

“Essa votação é a maior surpresa de todas as eleições realizadas até agora na Romênia”, disse o jornalista Dan Tapalaga.

O segundo turno será realizado em 8 de dezembro, mas, antes disso, a Romênia terá eleições parlamentares em 1º de dezembro, com seu cenário político agitado pelo sucesso inesperado de Georgescu.

De acordo com a constituição romena, o presidente exerce um poder considerável, incluindo a supervisão da política externa e de defesa e a responsabilidade de nomear o primeiro-ministro.

‘Candidato do TikTok’

Georgescu, um nacionalista religioso, conduziu uma campanha discreta, concentrando-se principalmente na plataforma de mídia social TikTok e fazendo aparições pessoais apenas em áreas rurais selecionadas. Ele não recebeu cobertura da grande mídia.

Em suas mensagens de campanha, ele defendeu a redução das importações, o forte apoio aos agricultores e o aumento da produção de alimentos e energia. Ele também criticou a UE, alegando que ela não representa adequadamente os interesses da Romênia.

Georgescu questionou a ajuda militar à vizinha Ucrânia e pediu o fim da guerra. Em uma entrevista em 2020, ele descreveu Vladimir Putin como um dos poucos líderes genuínos do mundo, afirmando que o presidente russo ama seu país, independentemente dos métodos que emprega.

Ao discursar no final do domingo em frente à sua casa, perto de Bucareste, já que ele nem sequer tem uma sede de campanha, Georgescu parabenizou os eleitores romenos por apoiá-lo.

“Ao reacender a chama da esperança, o povo romeno optou por não mais se ajoelhar, não mais ser invadido, não mais ser humilhado”, declarou.

“Esta noite, o povo romeno gritou ‘paz’ e foi muito alto”, acrescentou.

Os especialistas se esforçaram para explicar o resultado da eleição.

“O resultado da votação foi possível porque há uma demanda significativa na sociedade romena por um político como Georgescu. Por quê? Eu poderia dar uma resposta mais precisa se houvesse dados sociológicos de alta qualidade sobre o que os romenos querem. Infelizmente, não temos esses dados”, disse o analista político Claudiu Tufis.

O jornalista Tapalaga disse acreditar que o sucesso de Georgescu, depois de conduzir sua campanha em grande parte pelas mídias sociais, também marca uma mudança na forma como a comunicação política é conduzida na Romênia.

Tapalaga disse que essa foi “a primeira eleição em que a mídia social foi mais influente do que a televisão. Vimos como o TikTok pode derrotar a mídia convencional”, acrescentou.

A diáspora romena desempenhou um papel crucial no primeiro turno das eleições presidenciais. Mais de 800.000 romenos que vivem no exterior votaram – um recorde de participação.