
Movimento Imperial Russo: como um grupo de extrema direita proibido pelo Reino Unido está espalhando terror pela Europa
Monarquistas russos espalham violência pelo continente
O governo britânico anunciou, no início de julho, que um grupo de extrema direita chamado Movimento Imperial Russo (RIM, na sigla em inglês) será banido com base na legislação antiterrorismo. Isso tornará crime, no Reino Unido, ser membro do grupo ou expressar apoio a ele.
O RIM esteve no centro de uma série de ataques com cartas-bomba contra pessoas e instituições de alto perfil na Espanha em 2022. Entre elas, uma bomba enviada à residência oficial do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que foi interceptada pela sua equipe de segurança.
Outras seis cartas-bomba foram enviadas a alvos como as embaixadas dos EUA e da Ucrânia em Madri, instalações militares e fabricantes de armas que fornecem equipamento bélico à Ucrânia. Ninguém morreu nos ataques, que autoridades norte-americanas consideraram atos de terrorismo.
Investigadores logo anunciaram que suspeitavam da participação do RIM. Autoridades dos EUA e da Europa alegaram que o grupo foi orientado a realizar os ataques por oficiais da inteligência russa.
O que é o RIM?
O Movimento Imperial Russo é uma organização ultranacionalista, neonazista e supremacista branca baseada na Rússia. Foi criado em 2002 por Stanislav Anatolyevich Vorobyev, um cidadão russo classificado como terrorista pelo governo dos EUA.
O grupo busca recriar um novo império russo e utiliza a bandeira imperial russa como símbolo. O antigo império russo (1721–1917) incluía os territórios que hoje compreendem Rússia, Bielorrússia, Ucrânia, Polônia, Finlândia, Geórgia, Armênia, os Estados Bálticos e partes da China.
O movimento não reconhece a soberania da Ucrânia. Considera o país parte de uma conspiração sionista global voltada a enfraquecer a Rússia e promover interesses judaicos. O RIM nega o Holocausto e é formalmente banido nos EUA, Canadá e agora também no Reino Unido.
O grupo possui um braço paramilitar chamado Legiões Imperiais, que opera ao menos dois centros de treinamento em São Petersburgo. O Departamento de Estado dos EUA afirma que esses centros treinam membros do RIM em combate urbano e em florestas, uso de armas táticas e luta corporal.
Denis Valliullovich Gariyev, líder das Legiões Imperiais, já convocou “jovens ortodoxos” a se unirem ao grupo e defenderem a “Novorrússia” – termo usado para descrever a reivindicação russa sobre o território ucraniano. Em 2020, estimava-se que as Legiões tivessem milhares de membros.
O RIM e seu braço paramilitar já participaram de diversas atividades, desde alianças com outros grupos de extrema direita na Europa até o treinamento militar de organizações terroristas. Também estiveram diretamente envolvidos em ataques com bombas.
Desde 2014, quando começou o conflito no leste da Ucrânia, o movimento tem enviado membros como mercenários para apoiar grupos separatistas pró-Rússia. Após a invasão em larga escala de 2022, seus membros intensificaram o apoio direto às forças armadas russas, como evidenciam vídeos divulgados nas redes sociais mostrando combatentes do RIM usando rifles de precisão e mísseis antitanque.
Analistas indicam que o grupo mantém fortes laços com a empresa militar privada russa Wagner Group. Combatentes das Legiões Imperiais teriam atuado ao lado de mercenários do Wagner na Síria, Líbia e, possivelmente, na República Centro-Africana.
Atuação na Europa
Fora do campo de batalha, o RIM tem apoiado grupos de extrema direita europeus, como o Movimento de Resistência Nórdico, na Suécia, além de organizações na Alemanha, Espanha e outros países.
Por meio de seu programa de treinamento “Partizan” (palavra russa para “guerrilheiro”), o RIM fornece capacitação em fabricação de bombas, pontaria, primeiros socorros, sobrevivência, topografia militar e outras táticas. Segundo o governo britânico, o objetivo do programa é aumentar a capacidade dos participantes para realizar ataques terroristas.
Dois suecos que participaram do programa cometeram uma série de atentados contra centros de refugiados em Gotemburgo entre o final de 2016 e o início de 2017. Ambos foram condenados, com o Ministério Público creditando ao RIM sua radicalização e treinamento.
Na Finlândia, o grupo também forneceu treinamento a extremistas de direita. Alguns lutaram ao lado da Rússia na Ucrânia, enquanto outros tentaram estabelecer uma célula finlandesa da organização neonazista Atomwaffen Division. Em operações policiais realizadas em 2023, surgiram inclusive planos para assassinar a então primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin.
Vínculos com o Estado russo
Embora o RIM já tenha sido crítico ao governo russo – acusando Putin de ser brando com a Ucrânia e promovendo ideias racistas incompatíveis com o nacionalismo pragmático do Kremlin –, a crise ucraniana iniciada em 2014 aproximou os objetivos políticos do grupo dos interesses do Estado russo.
Atualmente, o RIM é considerado um dos principais grupos paramilitares pró-Rússia operando na Ucrânia, num momento em que Putin precisa de mais recrutas para sustentar a guerra. Agências de inteligência ocidentais acreditam que o grupo mantém relações com autoridades dos serviços de inteligência russos.
O número exato de combatentes do RIM na Ucrânia é desconhecido, dada a confidencialidade em torno da atuação de mercenários, mas estimativas apontam para centenas ou poucos milhares.
A decisão do Reino Unido de proibir o grupo indica uma preocupação crescente com o aumento da capacidade operacional do RIM tanto na Ucrânia quanto na Europa. Com sua rede extensa, o movimento representa uma ameaça crescente à segurança, especialmente se continuar a atuar como instrumento da política externa de Putin.